segunda-feira, 28 de maio de 2012

Andre Rieu - O Maestro do Povo


Próximo domingo, 2 de junho, assistirei a um espetáculo no qual pela primeira vez sinto ser verdadeiramente fã do artista que irá se apresentar. Posso dizer que musicalmente já testemunhei o lixo e o luxo. Apesar de acreditar que tal definição maniqueísta e preconceituosa para estilo musical  não faz o menor sentido, o leitor, através de tal descrição, entenderá melhor a amplitude do espectro de estilos dos quais pude presenciar apresentações. 

Já assisti show Axé na Bahia, pagode na Praia Grande, jazz no Bourbon Street, Fantasma da Ópera na Broadway e Osesp na Sala São Paulo, óperas no Teatro Municipal. Tudo isso faz parte do meu gosto musical em que o único padrão é não ter padrão.

Muito dessa minha "falta de definição" de um gosto musical tradicional reside no fato de que eu vejo a música, acima de tudo, como expressão artística da qual todos podem usufruir, e a qual todos podem produzir para os mesmos fins: diversão, lazer, dança, alegria, tristeza, sensações.

Por essa razão, aqueles que criticam estilos populares pura e simplesmente por conta da audiência desses estilos esquece que comparados à música erudita, todos os outros estilos são "populares" e de complexidade musical questionável. Isso, entrentanto, não significa que as grandes bandas tem genialidade menor que a de Mozart, Beethoven ou Tchaikowski. 

Por outro lado, há quem acredite que a música clássica está de algum modo acima dos outros. E para propagar essa idéia alguns se munem de excentricidade. Indo direto ao ponto, certa vez fui assistir a OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) na Sala São Paulo (Estação Julio Prestes). Lá tive a infelicidade de ter que aguentar os caprichos de um maestro competentíssimo na arte de conduzir uma orquestra, mas incapaz de tornar um ambiente harmonioso. Numa exigência sobre-humana de um silêncio cósmico, o maestro John Neschling só começou o seu espetáculo após o vento parar de soprar, a madeira parar de estalar, o público parar de respirar. Nunca me senti tão tenso num show em que pretendia relaxar. É claro que o público brasileiro ainda não está preparado para se comportar apropriadamente em público, retrato disso é a incapacidade de desligar um celular, mas houve um exagero excêntrico na postura do maestro.

De qualquer forma eu vim aqui falar do oposto. Conheci o trabalho desse maestro através dos canais católicos que minha avó assiste. No início pensei ser um violinista talentoso que resolvera fazer shows solo de música sacra. Porém o maestro Andre Rieu é um artista capaz de criar e expressar a música com os mesmos fins para os quais acredito que música deve existir.

Numa mistura de musical, show popular, ópera, sinfônica. A Orquestra Johan Strauss regida por Rieu percorre o mundo levando entretenimento para todas as idades e para todos os gostos. Por isso eu gostaria de compartilhar aqui um pouco dessa alegria e dessa expectativa em assistir esse grande artista. 

O vídeo abaixo é de um show em Londres.





terça-feira, 22 de maio de 2012

E agora José

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?







Carlos Drummond de Andrade