segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Ditador

O título repete o da obra prima de Charles Chaplin. No que eu gosto de ver como uma releitura, Sacha Baron Cohen interpreta uma caricatura do típico ditador de uma república do petróleo localizada nos arredores do Oriente Médio. Ao contrário do original que era mudo, esta versão explora as sonoridades do sotaque de um árabe falando inglês. Entretanto, o mais surpreendente é que o espírito critico se manteve dentro do que foi originalmente proposto como sendo uma comédia. Segue abaixo uma prévia do que esperar no filme. Este trecho não está no filme e deve ter sido feito apenas para divulgação. Simplesmente sensacional!!!!


domingo, 19 de agosto de 2012

Cotas

No início deste mês, o Senado Federal aprovou as novas regras para cotas nas universidades federais. A lei prevê que 50% das vagas seja destinada a estudantes que cursaram 50% do curso em escolas públicas sendo que metade destas vagas serão destinadas à negros, pardos e índios de acordo com as proporções populacionais de cada estado.

Há sete anos atrás com a cabeça de um aluno de classe média recém-formado no ensino médio eu concluiria que isso é uma injustiça que não passa de mais um medida para ganhar votos dos mais pobres. Talvez por trás de toda essa campanha contra o movimento de instituição de cotas estivesse o medo de não ser capaz de retornar a altura todo investimento feito pelos meus pais na minha educação, toda ela em escola particular. Medo de ter que competir em "desvantagem" com outros concorrentes. Eu não enxergava que quem sempre esteve em desvantagem foram eles e que a competição sequer deveria existir.

Felizmente hoje, com mais bagagem cultural e, talvez senso crítico, posso afirmar que a regra é, sem dúvida, justa e está corrigindo anos, senão séculos, de injustiça social no Brasil. Não nascemos hoje e nem nunca nascemos iguais perante ao Estado brasileiro. Posso dizer isso porque aprendi história com bons professores na minha escola particular, o que não é verdade para os beneficiados pelas políticas de cotas adotada pelo governo.

Medidas que busquem igualar e corrigir a curto e médio prazo uma injustiça tão crônica são bem vindas e devem ser instauradas. É necessário porém sempre fazer uma ressalva de que medidas como estas são corretivas e devem ser acompanhadas de medidas de longo prazo como o investimento maciço na educação de base que nunca existiu de maneira universal no Brasil. 

Acredito que estamos alguns anos atrasados quando o assunto é igualdade de oportunidades entre as classes e raças. Porém, histórias como a dos "The Little Rock Nine"  nos lembram de como a intolerância certamente será condenada pelas próximas gerações.



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Brasil e o sonho olímpico

Hoje, 06 de agosto de 2012, em Londres, Arthur Zanetti (anônimo até então) tornou-se o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha na ginástica artística. Um feito memorável ainda mais tratando-se do Brasil que não possuía tradição no esporte.

Diz-se que no Brasil os atletas são muito cobrados por resultados excepcionais que podem se resumir em ser sempre o primeiro (Rubinho que o diga). Em rodas de conversa é comum depararmos com comentários do tipo: "Foi bem, mas ganhou prata" ou "Nem chegou na final". 

Quando o assunto é o quadro de medalhas é que os comentários descem a ladeira do respeito, principalmente aos outros povos: " Estamos atrás do Cazaquistão!!", "Estamos atrás da Etiópia, não é lá que eles passam fome?". Só para esclarecimento, estamos sim atrás do Cazaquistão simplesmente porque esse país fez parte da União Soviética e ainda colhe(e semeia) frutos de esportes tradicionais no país, geralmente lutas. Sobre a Etiópia, prefiro deixar que cada um chegue a sua própria conclusão sobre um comentário do tipo que transcrevi acima. Todas essas comparações só desmerecem os outros países que com mais ou menos dificuldades competem e conquistam suas medalhas.

O motivo deste post na verdade está na cobrança que os atletas brasileiros têm que enfrentar por parte da população em geral. A mídia, sempre bastante hipócrita, adora mostrar compaixão aos "perdedores" exaltando o espirito Olímpico, mas na verdade só valoriza mesmo quem chega lá, considerando que chegar lá não é estar em Londres competindo, mas sim ocupar o lugar mais alto do pódio.

No fim de semana passado o desempenho (e expressão) do nadador César Cielo foi o retrato da cobrança por parte de mídia e o seu rebanho conhecido também pelo nome povo. A manchete abaixo é a síntese disso tudo:


Certamente esperando manchetes do tipo Cielo declarou logo após a final: 




"Não gostei da minha prova. Sinceramente, achei que podia ter feito melhor, se não tivesse nadado os 100 livre. Estou me sentindo um pouco cansado hoje, então acabou prejudicando um pouquinho, mas dei tudo o que eu tinha que dar, fiz o meu melhor, agora é pensar no futuro"





A pressão que fazemos por resultados excepcionais é uma tremenda injustiça com esses atletas. Primeiro porque a maior parte deles recebeu pouco ou nenhum incentivo por parte do governo que deveria fomentar essas atividades. Está na Constituição (sic). 

"Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um [...]"

Já a realidade é a que vemos em notícias como a abaixo...


O ciclista sem uniforme reserva pode ainda ser considerado um sortudo por ter o primeiro (rasgado) uniforme.

Apesar de tudo, tais fatos me fizeram, relutantemente, concluir que a cobrança que existe sobre os atletas pode até não ser justa, mas é legítima uma vez que ela nasce nos próprios atletas e nos "contamina". Todos eles passaram dificuldades inimagináveis pra mim e provavelmente pra você que lê isso. Os obstáculos vão desde falta de aparelhagem de ponta até coisas básicas como uma refeição (afinal não é só na Etiópia que pessoas passam fome). E por todos esses percalços, a glória do primeiro lugar é o único resultado que faz toda a luta ter valido a pena. E nós, os compatriotas desses guerreiros, sabendo das dificuldades enfrentadas por esses caras torcemos incondicionalmente caindo na desgraça de passar do ponto exigindo somente o impossível ou improvável terminando por desvalorizar méritos abaixo do esperado, a começar pelo 2o lugar. O brasileiro não precisa aprender a perder, mas saber para quem perdeu. E em geral, perdemos para nós mesmos quando não damos os incentivos devidos àqueles que merecem.

Termino este post com uma frase dita em 1994 (seis anos antes de falecer) pelo goleiro Barbosa da seleção brasileira vice-campeã mundial da Copa de 1950:



"Neste país, a pena máxima criminal é de 30 anos. Não sou criminoso e já cumpri dez anos a mais do que isso. Tenho o direito de dormir tranqüilo"