quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Viva Mandela!


Não poderia de deixar de registrar a tristeza em saber que Nelson Mandela já não vive entre nós. Falar da história conhecida deste grande líder seria repetitivo demais para quem ler esse texto por isso vou falar o que Mandela simboliza pra mim.

O sorriso largo reforçado por olhos expressivos como o de um oriental. Interessante é que o desenho longilíneo de um olhar que torna um riso mais simpático também é o mesmo que transmite a dor de uma trajetória sofrida de luta pela dignidade do homem perante o homem. Mandela que lutou pela igualdade era diferente...

O mundo perdeu um sorriso que venceu o sofrimento e a injustiça.



Poços dos Fundos

Costumo dizer que sou da geração dos "filhos da democracia". Nasci em 1987 num país com presidente civil e tive garantido a partir dos 16 anos o direito constitucional de votar. Votei em quase o mesmo número de eleições que a meus pais e, talvez, o mesmo tanto de vezes que a minha avó.

Acho que um dos melhores produtos dessa geração é o humor livre, sem censura. É verdade que grandes humoristas surgiram em períodos não tão democráticos. As temáticas, porém, acabavam ficando limitadas e a "alma do riso" ficava no gesto, na situação e menos na ironia e na crítica direta a alguém ou a alguma situação. Os saudosistas que me perdõem, mas o humor era mais burro, mais Zorra Total.

Se os anos pré-democráticas foram marcadas por personagens "tipo" como os de Chico Anysio, Jô Soares e Trapalhões o humor desta década é o chamado "humor cara limpa". O personagem (quando existe) é uma pessoa comum descrevendo uma situação cotidiana em que "alma do riso" está na maneira como a situação é conduzida pelo protagonista ou então reside no fato de a audiência ter passado por situação complicada semelhante e "sobrevivido" à ela. É a velha máxima do "depois a gente vai rir disso tudo" coletivo.

Acho até possível traçar uma linha do tempo do humor que eu assisti que começa:

Trapalhões: Personagens tipo, humor quase circense.
Praça é nossa: Personagens tipo, humor teatral com pouco conteúdo.
Chaves: Personagens tipo, humor circense, as ironias voltam a aparecer
Casseta e Planeta: Personagens paródia (FHC, Lula, Dilma, Ronaldo), humor teatral e crítico, fortemente irônico.
Internet: Surge o humor digital com montagens, vídeos virais. O cotidiano coletivo começa a entreter.
Pânico/CQC: Humor fortemente crítico e irônico com formato jornalístico político ou de celebridades.
Stand Up: Sem personagens, "cara limpa", cotidiano coletivo impera.

Daqui pra frente vou falar sobre o que motivou esse texto que é o "Porta dos Fundos". Os criadores desse canal conseguiram unir o que classifiquei acima como humor Internet com o humor Stand Up e criaram uma nova maneira de fazer rir. Os vídeos que batem recorde de visualizações são criativas demonstrações de um humor que emprega o cotidiano coletivo para fazer rir e também para criticar. Muita gente fazia o que o Porta dos Fundos faz, mas a qualidade e roteiro fazem dos curtos vídeos uma obra prima do humor.

Assim como os antecessores, em algum momento a piada perde a graça. De alguma forma, a novidade faz parte da piada e um dia, o Porta dos Fundos vai virar uma Zorra Total. Quando? Não sei, mas isso acontecerá inevitavelmente. Engraçado isso né?










terça-feira, 15 de outubro de 2013

Darwin e Snowden

Os noticiários das últimas semanas deram destaque às denúncias de espionagem por parte de agências de inteligência americana (NSA) realizadas sistematicamente nos fluxos de informações que passam pelo território brasileiro, principalmete oriundos de China e Irã cujas redes de internet têm maiores restrições ao acesso norte-americano. O governo do Brasil declarou preocupação com as denúncias e convocou diplomatas americanos para dar explicações. 

Não sou expert em direito e relações internacionais, mas certamente liberdades individuais foram feridas com operações que parecem ter saído das telas do cinema. Aí que vem a dúvida: Filme de que época?

A espionagem fez e faz parte importante de todas as guerras travadas e/ou ensaiadas entre os povos que viveram ou vivem em conflito nesta bola de água perdida no universo. A diferença é que nos últimos anos conseguimos, ou pelo menos tentamos, forjar um esboço do que queremos ser como sociedade baseando-se em leis e tratados para garantir alguns direitos básicos a todos. Dentre eles está o direito à privacidade. 

A curiosidade é um instinto forte que trazemos no nosso DNA. Ser curioso, saber o próximo passo do predador com antecedência provavelmente significava sobreviver no mundo em que o Homo sapiens surgiu. Esse instinto persiste e influencia o que aceitamos ou não no nosso grupo ou sociedade, ou melhor, o que queremos como sociedade.

O predador de hoje para os americanos é o terrorismo e, por essa razão, parece que não há preocupação entre os americanos com o repudio estrangeiro às práticas de espionagem reveladas uma vez que elas são apenas efeitos colaterais da antecipação do bote do grande predador.

Estas práticas ferem, sem dúvida, direitos fundamentais que deveriam ser respeitados entre nações soberanas. Entretanto, vejo também um despreparo do lado brasileiro na proteção de informações e que está sendo jogado pra cima do nosso predador. Ao invés de causar indigestão, deveríamos tratar de não ser a presa.




quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pop escrito ao contrário é Pop - 2

Senhoras e senhores, em julho desse ano postei similaridades das carreiras de Kelly Key e Anitta (Pop escrito ao contrário é Pop).

Recentemente, Anitta lançou o segundo single que está tocando nas melhores (sic) rádios do Brasil. A canção "Não para" tem um clipe mostra a própria Anitta "mostrando para o que veio" e tomando o lugar de uma cantora pop loira fictícia com nome Talitta. Mensagem subliminar? Não... eles não teriam tamanha capacidade, mas que é estranho é.

O que me motivou fazer essa parte 2 sobre Kelly Key e Anitta são os refrões do segundo single de ambas. No caso de Kelly Key, a música "Cachorrinho" traz o repetitivo refrão:

Vem aqui que agora eu tô mandando
Vem meu cachorrinho, a sua dona tá chamando(4x)

Enquanto que "Não para" Anitta vem com um refrão assustadoramente convidativo:

Vem que a gente vai mostrar para o que veio

Vem que a gente vai mostrar para o que veio
Vem, que no final a gente chega e pega fogo
Pode chegar e não para

Após está outra grande coincidência, vou lançar abaixo algumas previsões para os próximos anos de Anitta além de algumas que já fiz no primeiro texto sobre o assunto. Assim que as coisas  forem acontecendo vou postando se acertei ou não...


Previsão
Certo
Errado
Gravação de single em espanhol ou inglês em 2013/2014


Lança música com apelo infantil  - 2014


Lança DVD Ao Vivo no Maracanã - 2015


Troca os produtores e se “reinventa”


Deixa a Warner - 2017


Ouro de tolo


A expressão "ouro de tolo" ficou conhecida por designar um mineral chamado pirita cujo aspecto dourado pode ser confundido com o do ouro.

Este texto, porém, não vai explicar porque a pirita é confundida com ouro, mas sim tentar desvendar uma lenda que costuma ser difundida mundo afora sobre a composição do troféu da Copa do Mundo. Na última semana, a taça iniciou sua turnê ao redor do planeta e diversos meios de comunicação destacaram a cobiçada jóia que, para as seleções que disputarão a Copa de 2014, significa a máxima glória possível de se obter nos gramados de futebol. Para os não tão amantes do futebol, a peça chama atenção pelo luxo.

Em reportagem do G1(link), por exemplo, a taça é descrita como uma peça de "Quase 37 centímetros de altura. Pouco mais de seis quilos." e, logo em seguida, conclui: "Feita em ouro maciço. Dezoito quilates". 

É aí que a coisa fica mal explicada. Maciça? Ouro 18 quilates? seis quilos?

Talvez se a taça fosse de chumbo o absurdo ficaria mais claro ao senso crítico da maioria das pessoas. Álias, para efeito de comparação, uma taça de chumbo maciço pesaria menos que uma de ouro 18 quilates.

Não é novidade que essa informação já foi contestada por alguns cientistas há alguns anos, mas não encontrei nenhuma explicação mais a fundo. Por isso, como bom contestador, eu mesmo resolvi fazer a minha estimativa com os dados da própria reportagem e cheguei a conclusão descrita abaixo.



Densidade do Ouro 18 Quilates
16,5 g/cm3
Altura da Taça
36,8 cm (medida oficial)
Diâmetro do círculo superior
~15,5 cm (estimado)
Largura da base
~6,2 cm (estimado)
Altura da base
~16,7 (estimado)
Volume da bola
1287 cm3
Volume da base
635 cm3
Massa total
~32 kg

A medida tomada como base para os cálculos foi a altura da taça. Todas as outras foram estimadas através das medidas mostradas pelo Word. Contestável? Certamente sim, mas de qualquer forma o erro não se propagaria de forma tão grande a ponto de chegar num peso final de 32 kg, muito além dos 6 kg declarados.

Como se pode ver o resultado obtido foi subestimado visto que a base da peça foi descartada do cálculo.


E então? Pirita? Eis o nosso Ouro dos tolos.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Selando preconceitos



A discussão em torno da sexualidade das pessoas nunca esteve tão em alta nas discussões nos meios de comunicação e nas conversas das pessoas como hoje em dia. A Internet e as redes sociais (sempre elas) tornaram a pauta quase que onipresente em nossas vidas. Não mais como antigamente em que dizia-se, quase sempre com tom jocoso, que fulano era gay, beltrana era "sapatão". Hoje, o fulano é seu médico, amigo, irmão e a beltrana é sua vizinha, prima, mãe. E (quase) todos têm seus perfis no Facebook/Twitter e afins. Ambientes virtuais onde a normalidade de suas vidas e hábitos reais refletem a mediocridade de teses que tentem trata-las sem equidade de direitos e, pior, como doentes passíveis de cura. 
No mundo, vemos o mau exemplo russo de que nem sempre a visibilidade de uma discussão tem um desfecho racional e óbvio esperado em democracias plenas. Uma lei cujas entrelinhas sussuram o cerceamento de direitos fundamentais ao mesmo tempo são um claro grito de ódio vindo de uma fração de pessoas que a história sempre provou estarem erradas e se arrependerem. Afinal de contas, nada mais cristão que o arrependimento.

No Brasil, temos a infelicidade de ter um homofóbico e racista presidindo a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Protestos marcaram as primeiras semanas de trabalho após a eleição desse homem para liderar a CDH. Porém, no país em que a maioria não tem direitos plenos, as minorias oprimidas ainda carecem de apoio midiático e político capazes de derrubar tamanha aberração. O que as vezes me preocupa é que tentam denegrir a imagem deste político insinuando uma possível homossexualidade, o que em si é um contrassenso.

No início desta semana o atacante Emerson do Corinthians publicou uma foto dando um selinho num amigo num "recado contra o preconceito". Selinhos de outras personalidades não teriam tanto impacto como este porque em geral partem de personalidades inseridas em ambientes menos conservadores como o futebolístico. É tradição nas arquibancadas a utilização de xingamentos e melodias homofóbicas do tipo "Fulaaaano viaaado". É a maneira como o individuo é diminuído neste meio. Como são paulino não preciso dizer que a piada do "Bambi" é a pedida favorita dos adversários, especialmente, e ironicamente, quando os rivais são os corinthianos. Este tipo homofobia aceita pela sociedade nunca me incomodou pelos objetivos, mas sim pelo caráter sectário da injúria. Todo esse contexto transforma a atitude de Emerson, possivelmente, em um marco na questão da sexualidade no machista futebol.

Em uma reportagem da BBC sobre homossexualismo no futebol inglês, dois terços dos torcedores entrevistados afirmaram que se sentiriam confortáveis tendo algum jogador gay na equipe. Entretanto, apenas 2% deles acreditavam não haver jogadores homossexuais na liga profissional. Estes números mostram que o torcedor, de maneira geral, está ciente da realidade, mas um terço deles simplesmente não aceitaria um jogador gay na sua equipe. link

A atitude de Emerson dificilmente vai mudar a realidade no curto prazo, mas esse "selinho" pode estar selando o fim de anos de intolerância no futebol.

terça-feira, 9 de julho de 2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante


Não sei dizer ao certo o que Raul quis dizer quando escreveu que preferia ser uma metamorfose ambulante. Obviamente, os fãs mais entendidos sabem bem o que ele quis dizer. Alias, se você leitor é um desses fãs esclareça-nos abaixo o que é essa tal metamorfose.

Fato é que, hoje, lendo algumas postagens antigas vejo que esse tal Raul foi muito feliz quando escreveu esses versos que assumi como uma das diretrizes da minha curta vida nessa engenhoca atômica controlada por um tal de DNA.

O ano de 2011 foi particularmente movimentado na USP, talvez como uma prévia do viria a ser junho de 2013 no Brasil. 

A morte de um estudante de economia dentro do campus reviveu um debate antigo sobre a presença ou não da Polícia Militar dentro dos campi da universidade. O então (e atual) reitor decidiu firmar uma parceria entre a USP e a PM. Na época houve um incidente em que policiais abordaram alunos consumindo maconha e foram cercados por alunos e professores que protestavam contra a abordagem policial e pelos modos como ela é costumeiramente feita.

Na época escrevi um texto cujo título poderia ser usado hoje desde que o alvo das críticas fosse o Estado (PM, Reitoria, etc) e não a comunidade de estudantes e professores que protestaram naquela ocasião.

Lendo hoje esse post consigo imaginar o Datena repetindo as palavras escritas, apesar de manter a mesma opinião em alguns (pouquíssimos) pontos, no contexto geral vejo que fui um grande babaca... 

 "A Universidade e os canalhas" é aquela foto de adolescente cheio de espinha que eu não quero que ninguém veja, mas guardo só pra ver como melhorei com o passar dos anos. Ao contrário da foto, o texto não descreve uma melhora na aparência meramente estética de uma pele que hoje carrega no lugar da acne as marcas de expressão da idade e algumas daquelas mesmas espinhas de anos atrás, mas sim de uma melhora na maneira como encaro fatos para formar opiniões mais esclarecidas e condizentes com o que acredito e não com o que convém dizer ou acreditar. 

Espero que não leia esse texto daqui uns anos e discorde de tudo, de qualquer forma, como Raul disse antes por mim: Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.



quinta-feira, 27 de junho de 2013

17 de Junho de 2013. Independência do Brasil



"São 0:37 do dia 17 de junho de 2013. Chove forte nesse atípico inverno paulistano que só mantém mesmo a tradição de ar irrespirável durante os períodos mais secos.

Escrevo no escuro do quarto digitando nas minusculas letras de um iphone 3, fruto da estabilidade econômica do Brasil nos último anos que permitiram ao meu pai me presentear com um produto cujo preço excede o salario minimo pago hoje nesse país.

Precisava de alguma forma registrar a excitação que precede fatos históricos marcados para os próximos dias e,  espero, os próximos anos. Manifestações por todo o Brasil devem marcar o fim de uma era política marcada por corrupção e interesses exclusos. 13o, 14o, 15o salários serão fatos exemplares de um Brasil ultrapassado semi-absolutista. Mau gerenciamento de  recursos públicos serão capítulos trágicos dos livros de História. O abuso de autoridade e a impunidade que ironicamente condena somente os mais pobres serão lembranças de uma época triste no país que nasceu alegre! Sim, nós podemos sê-lo sem asteriscos no fim

A ansiedade e inquietação são assombradas também pelo medo de que tudo vire somente mais  "um rio que passou minha vida".


Acredito que ainda carecemos de lideranças com ideais firmes e um plano de longo prazo para o país. e mesmo quando tivermos tudo pronto, chegaremos num ponto em que ocorrerão dissidências que podem colocar tudo a perder.

Espero que hoje seja um dia especial pra todos nós...."

terça-feira, 11 de junho de 2013

20 Centavos que valem a pena


Desde a semana passada, as noites paulistanas têm sido marcadas por protestos contra o aumento da passagem de ônibus de R$3,00 para R$3,20. A Polícia Militar com a gentileza e preparo que lhe são característicos tem feito seu trabalho com louvor: bombas de gás, tiros de borracha na altura da nuca e prisões marcaram todas as manifestações.

A imprensa brasileira em geral gosta mais de dar destaque às pichações e depredações causadas pelos manifestantes, afinal é muito mais conveniente($) fazer VT e tirar foto do que ficou do que levar bala no meio da multidão. O governador Alckmin e o prefeito Haddad esquecem divergências políticas e entoam juntos o discurso de que a ordem deve ser mantida. O azul do PSDB e o vermelho do PT artisticamente colorem de roxo a pele de quem ousa atrapalhar o trânsito da grande metrópole. 

No palco dessa epopeia paulistana, nossa(sic) polícia, nossa(sic) imprensa e nosso(sic) governo estão fazendo seus papeis com a maestria de sempre. E a opinião pública analfabeta funcional e escrava dessa diabólica trindade é posicionada contra esse bando de baderneiros que lutam "só por 0,20 centavos". E num passe de mágica e de demonstração de unidade a Polícia que não protege e amedronta vira a restauradora da ordem, a imprensa vendida e sensacionalista vira a fonte de fatos inegáveis e o governo, bom o governo....quem é mesmo o prefeito...? governador....?

Eu particularmente destaco o argumento contrário que diz: "Esses caras estão lutando por 20 centavos! E a educaçãocorrupção, superfaturamento, e tantas outras mazelas que marcam a administração pública no Brasil? Ninguém vai pra rua por causa disso..".

Não se pode levantar a bandeira de uma luta em detrimento da luta de outros. É leviano fazer tal juízo de valor.

Se você é defensor dessa tese, saiba que certamente alguém foi pra rua e protestou em favor de demandas que você julga mais relevantes para o país. Infelizmente, também é certo que tais protestos não foram devidamente veiculados nos canais daquela imprensa bem intencionada supracitada e mais certo ainda é que você não aderiu às tais nobres causas já que está pedindo pra alguém fazê-lo quando de fato alguém já o fez. Resumindo, você pegou o ônibus andando porque ele não para quando está cheio, pagou absurdos R$3,20, e quis se apoiar na barra de ferro, afinal sabemos que janelinha em ônibus paulistano é promessa quase que celestial. Será que deu pra entender?

É preciso pensar um pouco mais além para enxergar que os protestos lutando por um aumento que por si só já é abusivo, mas sim por uma mudança em um modelo de transporte público que privilegia o transporte individual ao coletivo. Não é uma exclusividade brasileira essa servidão a indústria automobilística, mas a prostração diante de tais absurdos é tipica dessa terra. 

A má qualidade e baixa abrangência do nosso transporte público coletivo são produtos de decisões tomadas por lideranças corruptas (eleitas por um povo sem educação) que transferem dinheiro público para as empresas de ônibus e empreiteiras que oferecem em troca um serviço superfaturado e ruim penalizando a todos. Nenhum dos manifestantes está lutando por 20 centavos, mas sim por anos a frente diferente dos 500 anteriores. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A melhor reivindicação de todos os tempos da última semana...

Deu nas capas dos jornais:

"O Brasil precisa diminuir a maioridade penal".

Mais uma vez, a opinião pública de manobra do país da política prático-imediatista luta por uma causa movida por recentes ocorridos envolvendo a participação de menores de idade. Em um dos casos, um estudante universitário foi morto por um menor que completaria 18 anos três dias após o crime. No outro fato, menores de idade chefiavam uma quadrilha assaltante de restaurantes.

São em semanas como essa que entendemos o tamanho dos problemas que esse país vai ter que enfrentar. Se de um lado temos o problema da violência que atinge todas as camadas da população, embora cause mais comoção quando essa camada está um pouco mais acima na escala social, de outro temos uma população (cansada e sitiada) unida numa busca por um tapa-buraco que é diminuir a idade na qual um jovem pode ser julgado e condenado por um crime. Brasileiro tem memória curta....

Os mesmos que ontem diziam que a justiça não punia os transgressores da lei de uma hora pra outra encontraram nela a solução para o problema do jovem infrator. As perguntas são simples e a conclusão chega a ser infantil:

A justiça brasileira é eficiente na penalização e recuperação dos criminosos?
Não!
Essa justiça vai resolver o problema do jovem infrator?
Também não!

Diminuição da maioridade penal é que se espera de um país onde é mais vantajoso remediar do que prevenir, onde o agora é mais importante porque está na Globo e também por que é mais fácil: "Põe o moleque no xadrez e pronto". E assim, tapando o sol com a peneira de aço que faz ele nascer quadrado é que achamos o remédio para uma geração de perdidos.

Os que concordam comigo costumam defender que casos desses são produto da pobreza e da desigualdade que, historicamente, aflige a população desse país. Porém, o que dizer da maioria dos pobres que não segue o caminho da desonestidade e da violência? O determinismo que não justifica também não pode ser a solução para nossos problemas. 

É preciso entender que a pobreza por si só não é a fábrica de infratores assim como a cadeia não é o descarte final e, muito menos, a reciclagem deles. O país que escolheu o malandro como herói tenta se livrar dele, mas ainda insiste em utilizar seus métodos.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Coréia do Norte, os EUA e a Ásia

Temos acompanhado nas últimas semanas a elevada tensão na península coreana capitaneada pela dinastia Kim norte-coreana cujo porta-voz é o jovem líder Kim Jong Un. Do outro lado vemos uma Coréia do Sul sempre alerta a retórica dos vizinhos do norte e com a fraterna proteção dos Estados Unidos, sempre eles.

O discurso extravagante, excêntrico e belicoso da monarquia da Coréia do Norte sempre foi interpretado com cautela por americanos e sul coreanos, mas sempre levantaram suspeitas em analistas sobre as verdadeiras intenções de um regime que se sustenta através de barganhas que se valorizam proporcionalmente ao tom do discurso agressivo. Na prática, apesar de possuir um dos maiores exércitos do mundo, a liderança coreana do norte sabe que não pode dar um passo em falso simplesmente porque não está páreo para a maior máquina de guerra que o mundo viu e que já está a postos e mobilizada para proteger seus interesses na Ásia. Um conflito iniciado pela pobre, e cada vez mais isolada, dinastia comunista terminaria inevitavelmente com a queda de um dos últimos redutos stalinistas do planeta.

Entretanto, não vou ficar falando de uma guerra que não vai acontecer. Vou falar um pouco de China e Estados Unidos. 

Não é preciso ser um expert em relações internacionais para entender que assistiremos China e EUA lutando pela hegemonia econômica, política e militar nos próximos anos . Ambos os lados entendem que suas  políticas internacionais terão, daqui em diante, que colocar na balança a possibilidade de ferir os interesses do outro gerando uma tensão que economicamente não é vantajosa para nenhum dos dois lados. É a Guerra Fria 2.0 que já está em curso.

Se a Coréia do Sul tem o respaldo zeloso dos americanos, a barra-da-saia-da-mãe da Coréia do Norte é a China. Durante a guerra da Coréia entre 1950-1953 os chineses lutaram ao lado dos aliados comunistas norte coreanos o que permitiu com que a península coreana se mantivesse dividida desde o fim da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje.

A conclusão que se chega observando o atual cenário é que os Estados Unidos vão reafirmando posições estratégicas ao redor da China, mas com um arsenal nuclear e mais poderoso. É simples especulação, mas que pode se desenrolar em uma grande vantagem estratégica num futuro não tão distante, afinal as saídas chinesas para o Pacífico vão ficando cada vez mais "infestadas" com a Armada do Tio Sam. 

Obviamente não é do interesse chinês um conflito na península coreana e por isso Pequim tem pedido cautela aos seus "protegidos". E aí que entra o outro ponto de especulação na questão que envolve o novo e desconhecido Líder Supremo Kim Jong Un que sofreu alguma influência ocidental durante sua formação e poderia não estar tão atento ou inclinado ao interesse chinês.

Só o futuro dirá se a especulação irá se desdobrar em consequências concretas, mas fato é que os americanos vão ocupando posições no novo eixo de poder econômico, político e militar global.


sexta-feira, 22 de março de 2013

Os legados da Copa



Quando o Brasil foi escolhido para ser sede da Copa de 2014 fiquei feliz e achava que seria uma grande experiência para um país que (ainda) anseia em ser "maior".

O significado do futebol pra mim e pra maior parte do povo desse país é maior do que quaisquer críticas dos não apreciadores. Episódios de truculência dentro e fora de campo, corrupção, manipulação de resultados, salários astronômicos em transações galácticas costumam ser os pontos levantados pelos críticos.  Discutir o assunto sob esses pontos de vista é perda de tempo pra ambos os lados porque são resultados de um cenário que vai além do mero e simples esporte chamado futebol.
O fato principal dessa reflexão está centrado em um evento que, gostando ou não de futebol, vai ser realizado no Brasil. Obviamente, não se trata de um acontecimento ordinário senão um dos eventos mais importantes do planeta que serviria também de vitrine para um país emergente com sede para mostra e aumentar sua influência no cenário político e econômico internacional. Em resumo, o Brasil teria todos os motivos para sediar tamanho evento. Esse era o meu pensamento em 2007.

Na minha inocente expectativa, o Brasil investiria na própria infraestrutura para não decepcionar os brasileiros e turistas que viriam participar dessa grande festa. As problemáticas cidades sede já tinham grandes problemas de infraestrutura, nenhum estádio tinha as condições básicas exigidas pela FIFA. Enfim, as necessidades eram muitas e as exigências eram enormes. Maiores que as necessidades e exigências foram, sem dúvida, as promessas feitas.

A maioria dos Estádios existentes seriam modernizados de modo a atender as demandas da FIFA, as cidades teriam o sistema de transporte público revolucionado. Aeroportos e portos seriam ampliados oferecendo serviços ágeis. Todas essas promessas estão registradas no site do Ministério do Esporte, afinal, poucos são os interessados em rever essas coisas anos depois das promessas. O vergonhoso registro se chama "Matriz de Responsabilidades".


Vou usar o exemplo paulistano pra resumir como o povo brasileiro foi lesado pela mídia e por nossos governantes. Eu, você, amante ou não do futebol estamos sendo e seremos cretinamente enganados. Vamos aos números:

A reforma do Estádio do Morumbi e seus entornos somados resultariam num valor de R$555 milhões (link) segundo o projeto inicial. Veja bem, seriam reformados o estádio e seus entornos.  Entretanto durante o percurso dos anos, mudaram os planos de maneira que um novo estádio seria construído a um custo estimado e "negociado" em R$800 milhões (link). Só o estádio. Hoje, o valor já ultrapassa R$ 1 bilhão, vulgarmente conhecido como o dobro do planejado (link).

Minha grande propaganda pró-Copa eram os legados que não estivessem apenas ligados ao futebol e que seriam vistos principalmente nos aspectos da mobilidade urbana. Foi esse meu maior erro. Se os valores citados acima para os estádios já são tristes, o monotrilho prometido na mesma "Matriz de Responsabilidades" é pior.

O monotrilho que cruzaria a cidade ligando aeroporto de Congonhas com o Estádio do Morumbi foi orçado inicialmente em R$2,86 bilhões. Valores altos para um país que teve R$815 milhões no orçamento de Meio Ambiente do ano passado. Isso porque o ex-presidente Lula afirmou em 2010: "Faremos uma Copa Verde como nossas florestas. A sustentabilidade será uma das marcas do país". Aham...
Voltando ao monotrilho, ele não ficará pronto a tempo de ser usado na Copa. De novo: O MONOTRILHO NÃO FICARÁ PRONTO A TEMPO. E o mais triste de tudo, o orçamento subiu para R$3,1 bilhões. Para efeito de comparação, isso representa cerca de 50% do custo total da Copa de 2010 na África do Sul. Isso porque a Copa na África também foi marcada por orçamentos que dobraram ao longo da execução.

Termino aqui lembrando que este é só o exemplo paulistano mais próximo das minhas vistas. A Copa do Mundo de 2014 é pra mim hoje mais um golpe dado em cima da crença, esperança e boa vontade o povo brasileiro que mais uma vez foi enganado e, resignado, vai se orgulhar quando o Galvão Bueno concluir na final entre Brasil x Alguém que apesar dos problemas, a copa foi um sucesso e que o povo brasileiro está "de parabéns". Se o Brasil cair antes final, aí sim pode esquecer. O foco da mídia não serão os "grandes legados" copa, mas sim a dupla de zaga contestada ou então o técnico que não botou fulano pra jogar.

E assim, o futebol vai falindo no Brasil...aqueles que não gostam tem os (bons) motivos acima para contestar e os que gostam tem os mesmos motivos para desgostar. Mas como vai dizer Galvão na final: "Que venham as Olímpiadas de 2016".
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Atualizando a vergonha de 2014
http://placar.abril.com.br/materia/parte-da-cobertura-da-fonte-nova-nao-aguenta-chuvas-e-cede?utm_source=redesabril_placar&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_placar&

http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-das-confederacoes/noticia/2013/05/mane-garrincha-gramado-suporta-jogo-mas-esta-longe-do-ideal.html

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/05/vazamento-provoca-lentidao-em-vias-da-zona-norte-do-rio-neste-domingo.html



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Rio Grande é meu país


Geralmente não venho comentar as tragédias tão rotineiras num país em que prevenir é mais rentável do que remediar. A corja de corruptos que nos governa e o povo prostrado que patrocina esse sistema suicida matam todos os dias milhares de brasileiros nas "fatalidades" da negligência crônica. 

Sei que não sou exímio escritor, e por isso, os momentos trágicos são como grandes vazios na cabeça de quem já tem pouco a adicionar. Sem falsas modéstias...

Entretanto, este fim de semana foi diferente. O trágico ocorrido na cidade com nome de santa me abalou bastante, e pela primeira vez, eu senti que poderia compartilhar e registrar alguma reflexão. 

Tenho 26 anos e saio com alguma (pouca) frequência para baladas e bares como a que ocorreu o incêndio e, sendo direto, eu me vi na terrível situação em que aquelas pessoas estiveram. Quando fui informado do acontecido, a primeira reação foi pensar o que eu teria feito e no impulso conclui: iria direto para algum dos banheiro. Sim! lá onde a maior parte dos corpos foi retirada seria a minha opção imediata. 

Eu creio que uma tragédia começa com a perda de "apenas" uma vida. Em Santa Maria, mais de 230 e vidas terminaram precocemente. 

Os gaúchos nos orgulham com seu apego às tradições, mas esta semana o famoso "tri" gaúcho só chegou até nós através da tristeza.

O Rio Grande é forte e vai superar essa perda...

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Django Livre VS A Viagem


O embate que batiza este texto poderia,  respeitando a ordem dos fatores, ser traduzido em "linguagem UFC" da seguinte forma: Anderson Silva VS Mikhael Abe. Para aqueles que viram os dois filmes a comparação é simplesmente descabida, mas na prática ela foi a síntese do meu último fim de semana que começou na sexta-feira no Cinemark do Eldorado com o filme "A Viagem" (Cloud Atlas) e terminou, felizmente, no Domingo com "Django Livre" (Django Unchained).

"A Viagem" começa com confusos pedaços de histórias desconexas que ao longo do tempo parecem se encaixar formando uma linha do tempo em que "pequenos" atos do passado tem algum tipo de consequência no futuro. GENIAL, se não fosse batido. Filmes recentes como "21 Gramas" e "Babel" trouxeram esse enredo ao público e foram bastante elogiados conseguindo alcançar algumas indicações e prêmios. A novidade em A Viagem foi a questão temporal já que, se lida linearmente, a história começa no século XIX e termina num mundo futurístico (sei lá o ano).

Vistas individualmente, as 6 histórias dariam filmes medianos. Talvez uma boa comédia, duas boas ficções, dois bons dramas, um bom suspense... coisa de sessão da tarde ou um dia de chuva nas férias, e mais nada. A conexão das histórias é simples, sem segredo ou reflexão pra quem tem o mínimo das capacidades cognitivas. Há momentos do filme que parece que a conexão com o passado teve que ser plantada ali senão todo o enredo iria por água abaixo. O filme trouxe outro clichê colocando Hugo Weaving (Sr. Smith de "Matrix") como o vilão onipresente de todas as épocas.

A Viagem é piegas e óbvio até na doutrinação espiritual que tenta passar: reencarnações, vidas passadas e coincidências são mostradas o tempo todo, mas, na minha opinião, a cereja do bolo é a história de Sonmi, que poderia se chamar tranquilamente Sonmi Cristo. Uma tentativa de antever como vai ser o cristianismo 3.0. Pior que isso, só a maquiagem mesmo.

Já meu Domingo ainda não terminou. Isso porque um filme como "Django Livre" não é imediato pelo fato de não ser óbvio. Eu mereço uma segunda chance para conseguir explorar todo conteúdo carregado pelas palavras do Sr. King Schultz interpretado de maneira gloriosa por Christoph Waltz (O caçador de Judeus de "Bastardos Inglórios").

Quem vai ver o filme de Tarantino esperando aquele faroeste criativo regado a sangue no mínimo se surpreende com o enredo que traz as sutilezas e incoerências de uma sociedade racista como a do sudeste americano. Já o banho de sangue é certo e engana o espectador de sessão da tarde que se pode ser levado a achar o filme é vazio. O desenrolar desta obra de arte não precisa, efetivamente, ir e vir nas épocas pra ser universal e atemporal mostrando como pequenos atos no passado se desdobram em grandes consequências no futuro (presente).

Concluo de maneira clichê assim como o primeiro filme que descrevi dizendo: "Django Livre" foi a única viagem que fiz nesse fim de semana.



segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Rap do exílio


Minha Vila tem ladeira,
lá em Sampa ela está.
Tanta moto barulhenta
Me faz sempre reclamar.

Nosso chão tem mais buraco
Só no meu jardim tem flores
É de quarta que tem feira
todas frutas incolores

Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá
Minha Vila tem ladeira,
lá em Sampa ela está.

Minha vila tem horrores
Que tais só vejo eu cá
Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá
Minha Vila tem ladeira,
lá em Sampa ela está.

Não permita TAM que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que eu sinta os temores
Que não encontro por cá
Mesmo que essa tal Vila
não exista mais por lá.



O SAC Paulistano


Sabe aquele buraco em que você passa todo dia e nunca vê tapado? E aquele poste de luz que está sempre piscando e, por vezes, apagado? E aquela calçada cheia de lixo?

Pois então, seus problemas acabaram......Chegou o Serviço de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura de São Paulo!!

É claro que a solução para os problemas não será rápida como deveria ser, mas esse canal da prefeitura consegue ao menos dar previsões ou status das medidas que estão ou estarão sendo tomadas para resolver o problema. Parece incrível, ainda mais tratando-se de um serviço público daqueles tipos que não costumam dar respostas, porém quando uma reclamação é enviada, a resposta costuma chegar.

Nós brasileiros (e me incluo muito nisso) temos a mania de apontar e reclamar dos problemas que enfrentamos na nossa cidade. Entretanto, nós fazemos pouco, ou quase nada, para mudar, começando pelas eleições que recolocam 60% dos vereadores de volta na câmara.

"Xingar muito no twitter" não vai adiantar. Vá lá no SAC da Prefeitura e reivindique como um bom cidadão.