quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Selando preconceitos



A discussão em torno da sexualidade das pessoas nunca esteve tão em alta nas discussões nos meios de comunicação e nas conversas das pessoas como hoje em dia. A Internet e as redes sociais (sempre elas) tornaram a pauta quase que onipresente em nossas vidas. Não mais como antigamente em que dizia-se, quase sempre com tom jocoso, que fulano era gay, beltrana era "sapatão". Hoje, o fulano é seu médico, amigo, irmão e a beltrana é sua vizinha, prima, mãe. E (quase) todos têm seus perfis no Facebook/Twitter e afins. Ambientes virtuais onde a normalidade de suas vidas e hábitos reais refletem a mediocridade de teses que tentem trata-las sem equidade de direitos e, pior, como doentes passíveis de cura. 
No mundo, vemos o mau exemplo russo de que nem sempre a visibilidade de uma discussão tem um desfecho racional e óbvio esperado em democracias plenas. Uma lei cujas entrelinhas sussuram o cerceamento de direitos fundamentais ao mesmo tempo são um claro grito de ódio vindo de uma fração de pessoas que a história sempre provou estarem erradas e se arrependerem. Afinal de contas, nada mais cristão que o arrependimento.

No Brasil, temos a infelicidade de ter um homofóbico e racista presidindo a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Protestos marcaram as primeiras semanas de trabalho após a eleição desse homem para liderar a CDH. Porém, no país em que a maioria não tem direitos plenos, as minorias oprimidas ainda carecem de apoio midiático e político capazes de derrubar tamanha aberração. O que as vezes me preocupa é que tentam denegrir a imagem deste político insinuando uma possível homossexualidade, o que em si é um contrassenso.

No início desta semana o atacante Emerson do Corinthians publicou uma foto dando um selinho num amigo num "recado contra o preconceito". Selinhos de outras personalidades não teriam tanto impacto como este porque em geral partem de personalidades inseridas em ambientes menos conservadores como o futebolístico. É tradição nas arquibancadas a utilização de xingamentos e melodias homofóbicas do tipo "Fulaaaano viaaado". É a maneira como o individuo é diminuído neste meio. Como são paulino não preciso dizer que a piada do "Bambi" é a pedida favorita dos adversários, especialmente, e ironicamente, quando os rivais são os corinthianos. Este tipo homofobia aceita pela sociedade nunca me incomodou pelos objetivos, mas sim pelo caráter sectário da injúria. Todo esse contexto transforma a atitude de Emerson, possivelmente, em um marco na questão da sexualidade no machista futebol.

Em uma reportagem da BBC sobre homossexualismo no futebol inglês, dois terços dos torcedores entrevistados afirmaram que se sentiriam confortáveis tendo algum jogador gay na equipe. Entretanto, apenas 2% deles acreditavam não haver jogadores homossexuais na liga profissional. Estes números mostram que o torcedor, de maneira geral, está ciente da realidade, mas um terço deles simplesmente não aceitaria um jogador gay na sua equipe. link

A atitude de Emerson dificilmente vai mudar a realidade no curto prazo, mas esse "selinho" pode estar selando o fim de anos de intolerância no futebol.