sexta-feira, 22 de março de 2013

Os legados da Copa



Quando o Brasil foi escolhido para ser sede da Copa de 2014 fiquei feliz e achava que seria uma grande experiência para um país que (ainda) anseia em ser "maior".

O significado do futebol pra mim e pra maior parte do povo desse país é maior do que quaisquer críticas dos não apreciadores. Episódios de truculência dentro e fora de campo, corrupção, manipulação de resultados, salários astronômicos em transações galácticas costumam ser os pontos levantados pelos críticos.  Discutir o assunto sob esses pontos de vista é perda de tempo pra ambos os lados porque são resultados de um cenário que vai além do mero e simples esporte chamado futebol.
O fato principal dessa reflexão está centrado em um evento que, gostando ou não de futebol, vai ser realizado no Brasil. Obviamente, não se trata de um acontecimento ordinário senão um dos eventos mais importantes do planeta que serviria também de vitrine para um país emergente com sede para mostra e aumentar sua influência no cenário político e econômico internacional. Em resumo, o Brasil teria todos os motivos para sediar tamanho evento. Esse era o meu pensamento em 2007.

Na minha inocente expectativa, o Brasil investiria na própria infraestrutura para não decepcionar os brasileiros e turistas que viriam participar dessa grande festa. As problemáticas cidades sede já tinham grandes problemas de infraestrutura, nenhum estádio tinha as condições básicas exigidas pela FIFA. Enfim, as necessidades eram muitas e as exigências eram enormes. Maiores que as necessidades e exigências foram, sem dúvida, as promessas feitas.

A maioria dos Estádios existentes seriam modernizados de modo a atender as demandas da FIFA, as cidades teriam o sistema de transporte público revolucionado. Aeroportos e portos seriam ampliados oferecendo serviços ágeis. Todas essas promessas estão registradas no site do Ministério do Esporte, afinal, poucos são os interessados em rever essas coisas anos depois das promessas. O vergonhoso registro se chama "Matriz de Responsabilidades".


Vou usar o exemplo paulistano pra resumir como o povo brasileiro foi lesado pela mídia e por nossos governantes. Eu, você, amante ou não do futebol estamos sendo e seremos cretinamente enganados. Vamos aos números:

A reforma do Estádio do Morumbi e seus entornos somados resultariam num valor de R$555 milhões (link) segundo o projeto inicial. Veja bem, seriam reformados o estádio e seus entornos.  Entretanto durante o percurso dos anos, mudaram os planos de maneira que um novo estádio seria construído a um custo estimado e "negociado" em R$800 milhões (link). Só o estádio. Hoje, o valor já ultrapassa R$ 1 bilhão, vulgarmente conhecido como o dobro do planejado (link).

Minha grande propaganda pró-Copa eram os legados que não estivessem apenas ligados ao futebol e que seriam vistos principalmente nos aspectos da mobilidade urbana. Foi esse meu maior erro. Se os valores citados acima para os estádios já são tristes, o monotrilho prometido na mesma "Matriz de Responsabilidades" é pior.

O monotrilho que cruzaria a cidade ligando aeroporto de Congonhas com o Estádio do Morumbi foi orçado inicialmente em R$2,86 bilhões. Valores altos para um país que teve R$815 milhões no orçamento de Meio Ambiente do ano passado. Isso porque o ex-presidente Lula afirmou em 2010: "Faremos uma Copa Verde como nossas florestas. A sustentabilidade será uma das marcas do país". Aham...
Voltando ao monotrilho, ele não ficará pronto a tempo de ser usado na Copa. De novo: O MONOTRILHO NÃO FICARÁ PRONTO A TEMPO. E o mais triste de tudo, o orçamento subiu para R$3,1 bilhões. Para efeito de comparação, isso representa cerca de 50% do custo total da Copa de 2010 na África do Sul. Isso porque a Copa na África também foi marcada por orçamentos que dobraram ao longo da execução.

Termino aqui lembrando que este é só o exemplo paulistano mais próximo das minhas vistas. A Copa do Mundo de 2014 é pra mim hoje mais um golpe dado em cima da crença, esperança e boa vontade o povo brasileiro que mais uma vez foi enganado e, resignado, vai se orgulhar quando o Galvão Bueno concluir na final entre Brasil x Alguém que apesar dos problemas, a copa foi um sucesso e que o povo brasileiro está "de parabéns". Se o Brasil cair antes final, aí sim pode esquecer. O foco da mídia não serão os "grandes legados" copa, mas sim a dupla de zaga contestada ou então o técnico que não botou fulano pra jogar.

E assim, o futebol vai falindo no Brasil...aqueles que não gostam tem os (bons) motivos acima para contestar e os que gostam tem os mesmos motivos para desgostar. Mas como vai dizer Galvão na final: "Que venham as Olímpiadas de 2016".
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Atualizando a vergonha de 2014
http://placar.abril.com.br/materia/parte-da-cobertura-da-fonte-nova-nao-aguenta-chuvas-e-cede?utm_source=redesabril_placar&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_placar&

http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-das-confederacoes/noticia/2013/05/mane-garrincha-gramado-suporta-jogo-mas-esta-longe-do-ideal.html

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/05/vazamento-provoca-lentidao-em-vias-da-zona-norte-do-rio-neste-domingo.html