quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O rolezinho e o protesto

A polêmica da vez em São Paulo (se espalhando pelo Brasil) estão sendo os tais rolezinhos organizado por jovens da periferia que combinam de encontros em alguns shoppings da capital. O resultado em geral é um tumulto generalizado causado por jovens desorientados, movidos por uma causa frágil e um estado muito bem preparado para descer o porrete em qualquer tipo de mobilização como de costume.

Começo minha linha de raciocínio com um exemplo que acontece todos os anos em algum lugar do Brasil.

O time A perde o campeonato pro time B. 

O muro do time A amanhece pichado com frases do tipo "vergonha", "Fora Fulaninho", "Fulanão mercenário", "Respeito com essa camiza(sic)". 

A manchete do dia seguinte: "Torcida A protesta contra perda do título". O protesto não pode ser isso, não deve ser isso!

O exemplo acima é uma demonstração de como a noção de "protesto" amplamente divulgada ao jovem brasileiro é distorcida, e por isso acaba alimentando algumas aberrações que alguns estudiosos até bem intencionados interpretam equivocadamente como fenômenos sociais frutos do abismo entre classes no Brasil. O abismo está lá, é um fato, mas considerar os tais rolezinhos uma forma legítima de protesto contra esssa situação acaba forçando a interpretação do fenômeno como a velha, e diria simplista, luta ricos x pobres quando em verdade ela não é em si uma manifestação espontânea pela mudança, mas um exemplo do que precisa ser mudado. 

Jovens marcando encontros em redes sociais em shoppings localizados próximos às suas residências não me parece ser bem um exemplo do choque de classes simplesmente porque não envolvem os extremos de uma pirâmide cuja ponta estreita pesa secularmente sobre uma base ampla e diversa. 

O pobre miserável brasileiro não me parece ser exatamente aquele individuo que confirma presença em um evento no Facebook (e vai nele), me desculpem, mas na minha visão, talvez romântica demais, o pobre brasileiro está preocupado em sustentar-se em necessidades digamos, mais básicas. "Al otro lado del rio", está o vilão da história, o estigmatizado rico brasileiro que segundo o que andam divulgando por aí é frequentador assíduo do Shopping Itaquera na Zona Leste de São Paulo, região com menor valor do metro quadrado na cidade sabe? Um luxo!....Peraí?! Quer dizer que o pobre não é tão pobre e o rico não é tão rico?! Mas e a história da sociedade perversa que exclui o pobre dos espaços na cidade? 

De alguma forma, os protestos (legítimos) de 2013 mudaram a maneira como as pessoas têm interpretado as estratégias de ação de alguns grupos. Estamos vivendo um tempo em que tudo parece legítimo, tudo parece ter uma razão nobre de ser. Há 6 meses, os médicos brasileiros pareciam estar sendo injustiçados pelo governo com a chegada de médicos cubanos e foram as ruas. Vi amplo apoio aos protestos na mídia e redes sociais, alguns deles sustentados com argumentos preconceituosos e até mesmo racistas. Hoje só se fala de comunidades beneficiadas pelos "doutores importados". Enfim, quase erramos e não podemos insistir na generalização de que toda mobilização de massa é legítima e tem motivações nobilíssimas.

Termino esse texto com a definição do verbo protestar encontrada em um dicionário. Livro simples, impessoal, e por isso, isento. Reflita...

Protestar: v.t. e v.i. Insurgir-se contra alguma coisa; reclamar; dar demonstrações de repulsa ou revolta contra alguma coisa.