segunda-feira, 9 de junho de 2014

Copa


No momento da nossa escolha como sede, era óbvio que nem mesmo os nossos melhores estádios teriam condições de receber um evento importante como a Copa, mas qual evento nossos estádios estavam aptos a receber que não uma demolição? Quase que ao mesmo tempo em que celebrávamos o anúncio da FIFA, lamentávamos a perda de sete vidas perdidas nas podres arquibancadas do estádio da Fonte Nova na Bahia que não suportou o peso dos anos de descaso das autoridades que parecem ter o milenar Coliseu romano como inspiração: pra quê reformar um estádio depois de pronto? A modernização dos nossos estádios para transformá-los nas chamadas arenas tornou-se mais do que uma mera exigência do famigerado "padrão FIFA", mas uma medida de segurança mínima para o torcedor.


A prioridade de uma obra em um estádio quando faltam leitos em hospitais é razoavelmente questionável, mas uma demanda não pode simplesmente anular outra até porque, investigando mais a fundo, veremos que as causas de ambas são as mesmas: corrupção, superfaturamentos e má gestão de recursos. Temos recursos para ambos!

Entretanto, ao que parece, passamos (de longe) da conta.

Construímos um estádio na Amazônia que provavelmente irá apodrecer recebendo jogos do não-tão-tradicional campeonato amazonense de futebol. Quando muito, vai rolar uma pelada da Copa do Brasil vai rolar no gramado caprichosamente plantado no solo que suporta uma floresta colossal.

Em Brasília a mesma situação com um atenuante: trata-se da capital da república. Porém, o que deveria ser atenuante tornou-se agravante: o Estádio Nacional de Brasília será a jóia da coroa desta Copa e foi erguido a um custo estimado em cerca de R$ 1 bi. É o nosso elefante branco de luxo lapidado em mármore.

Até mesmo em São Paulo, onde a então sede, o Estádio do Morumbi, parecia precisar de poucas intervenções acabou resultando na construção de um novo estádio para a cidade. R$900 mi. a menos nos cofres públicos. Uma torcida ao menos parece ter ficado feliz, exemplar "fiel" do desrespeito com os recursos públicos.

Se de um lado tínhamos uma necessidade, do outro tínhamos a costumeira ânsia por dinheiro público que corrói nas nosso sistema político e todos os lobbies associados à ele. O resultado não foi surpreendente senão coerente com as práticas já estabelecidas e, como sempre, gastou-se mais que o previsto tendo como retorno menos que o desejado.

Assim, aos poucos vibrar com a seleção como normalmente se fazia virou motivo de vergonha. Torcer é de alguma forma intepretado como compactuar com tudo que foi feito e da maneira que foi feita.

Infelizmente, bem ou mal, goste ou não, o futebol é a paixão nacional. Amamos este esporte e ensinamos ao mundo como jogá-lo com alegria e competência. Sim! Somos competentes em algumas coisas, e são nessas áreas de excelência que surgem as possibilidades de mudança naquelas em que o país carece.

Gosto de pensar que torcer é querer mudar. E assim vou vestir a amarelinha e, se os deuses permitirem, lembrar da campanha do hexa como um marco para mudanças mais profundas.