quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Paulista é, antes de tudo, um forte


É quinta-feira, 17 de julho de 2014, 6:00 da manhã. Na semana em que a Copa do mundo deixou o Brasil, um morador do suburbano bairro da Vila Dalva abre o seu moderno e econômico chuveiro a gás e....ping..ping..ping...

Se a semântica me permite eu realmente não sei, mas digo que a falta de água chegou em casa pelas vazias tubulações da Sabesp. O sentimento? Culpa...

Particularmente, seria uma fácil e conveniente falta de vergonha pôr a culpa apenas no ilustre governador que não deixa de ter sua parcela de desatenção na questão. Especialistas no assunto estão por aí dando entrevistas aos baldes, vazios é claro. Os baldes não os especialistas. Banhos longos são parte da minha rotina há uns bons anos...Coisa de adolescente? Não exatamente.

O banho da manhã é o momento em que me organizo, me planejo, penso, e logo existo. Não me orgulho nem um pouco desse hábito, e já tento a alguns anos reverter esse vício. Talvez tenha chegado agora no ponto em que a culpa que sinto poderá desencadear uma atitude mais responsável. Se nos banhos que tomei até aqui pude matutar sobre diversas questões, no banho de caneca tomado nas 3 manhãs seguintes eu pude refletir melhor sobre a falta que a água encanada faz.

Num momento de embriaguez às avessas e pressa parecia clara que a única opção seria enfrentar um banho frio na gélida manhã de julho. Banho esse tomado no único chuveiro elétrico (e queimado) ligado à caixa d'água. Eis que a sabedoria da minha avó que viveu em anos, digamos, mais escassos falou mais alto e com tom ultrajante de obviedade me disse: 

  - Tome banho de caneca!.
  - Tem água quente na torneira elétrica - completou minha mãe, dando um ar mais moderno ao que seria meu banho naquele dia.

A sensação era de precariedade, mas também de alívio por ter o sagrado banho da manhã salvo. Cada "canecada" de água quente - até demais por sinal - vinha acompanhado da insistente imagem de uma casa de pau à pique e de uma criança mulata tomando seu banho sobre uma bacia vermelha-alaranjada no que parecia um cenário do sertão nordestino. Certamente esta criança era o meu próprio reflexo, com os joelhos semi-flexionados de modo a aproveitar cada gotícula de água quente sobre o corpo. Pensei que aquela situação seria para mim passageira, mas e o menino? Nesse instante a antes chamada terra da garoa, senhores, era o sertão.

E parafraseando Euclides da Cunha em 2014, posso dizer que o paulista é, antes de tudo, um forte.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Copa II


Há exatos 30 dias, eu projetava o que seria a Copa no Brasil destacando os problemas nos preparativos e os sentimentos que o futebol desperta em nós brasileiros.

Ontem, a perspectiva do hexa morreu em derrota para a Alemanha no que foi um jogo excepcionalmente fora dos padrões de uma semifinal de Copa, fora dos padrões de um jogo do Brasil. Hoje a Argentina confirmou sua participação como finalista do campeonato vencendo o sempre vistoso e inovador selecionado holandês.

Perdemos, acreditem, dentro de campo e não fora dele.

Muitos falam de vergonha, raiva, tristeza, incompreensão com o "apagão" dentro de campo. Alguns tentando demonstrar lucidez retomam o espírito pré-Copa de revolta com a falta de saúde e educação, os verdadeiros vexames nacionais. Outros, como eu, tentam fazer piada e rir com o que tem sido uma belissíma Copa dentro e fora de campo.

Pensei bastante sobre tudo que se passou nesse último mês histórico e cheguei, não por acaso, à sete conclusões:

Primeiro: Não sinto vergonha pela derrota seja ela pelo placar que for e vou torcer pelo 3o Lugar. A Alemanha conquistou essa posição nas últimas duas Copas e assim construiu esse time fantástico.

Segundo: Vergonha eu sinto ao pensar que Chile e Colômbia foram recebidos como heróis nos seus países enquanto nós insistimos em encontrar culpados entre os nossos.

Terceiro: Vergonha eu sinto ao ter visto a torcida japonesa limpar as arquibancadas de um estádio mesmo depois de uma derrota de sua equipe em campo.

Quarto: Vergonha eu sinto ao ver os alemães exaltando o futebol brasileiro sem qualquer tentativa de diminuir ou denegrir nossa reputação dentro dos gramados. Provavelmente, nossa recíproca não seria verdadeira. 

Quarto: Futebol brasileiro ainda é pentacampeão mundial. Uma derrota como essa em casa só torna as cinco conquistas mais valorosas. 

Quinto: Desta vez, não há algozes pelas razões explicadas no quarto item. A Alemanha foi competente em campo, humilde fora e, na medida do possível, misericordiosa conosco.


Sexto: Desta vez, não há culpados também. Felipão ainda é o professor do penta e ponto final. Infelizmente dessa vez não deu e ele sabe que falhou.

Sétimo: A Copa no Brasil foi legal demais pra ficar a lembrança de tristeza no final.

P.S.:Obrigado Oscar! Pelo menos não foi de zero, isso é importante pros nascidos na terra do futebol.

Até 2018!