quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Bra vs. Sil


No último domingo, em eleição histórica (não pelo resultado), o povo brasileiro decidiu dar a oportunidade de mais 4 anos para a atual presidente Dilma Roussef que obteve pouco mais de 3 milhões de voto a mais que o candidato Aécio Neves do PSDB.

 É necessário mencionar que nunca antes um resultado de eleição gerou tanta expectativa como em 2014. A espera pelas parciais ocultadas pela votação ainda em andamento no estado do Acre tornou a espera ainda mais tensa.

Quando as primeiras parciais foram liberadas, cerca de 80% dos votos já haviam sido apurados e indicavam ligeira vantagem da atual presidente. Os dados completos indicariam mais tarde que o país estava aparentemente dividido. Digo aparentemente porque há no mínimo exagero em tecer tal conclusão baseado no resultado de um segundo turno que envolve sempre apenas dois candidatos. Mesmo a pequena margem de vantagem da vencedora não justifica essa análise que contribuiu para alguns excessos cometidos durante a eleição e após conhecido seu resultado. 

O único fato concreto é que nem a vencedora do pleito obteve a maioria dos votos. Dos 105 milhões de votos válidos, a eleita foi a escolha de 54 milhões de brasileiros, enquanto que os votos brancos, nulos e em Aécio somados resultam em 58 milhões de votos aproximadamente.

A única conclusão que vejo coerente com o real resultado das eleições de 2014 é que nenhum dos candidatos atendia aos anseios da população.

PT e PSDB foram tomando formas muito parecidas de fazer política ao longo do tempo. Escândalos de corrupção, guerra de dossiês/propaganda e acobertamento de partidários são práticas frequentemente associadas aos dois grupos que se dizem "antagônicos". Alguns menos informados os denominariam a esquerda e a direita brasileira respectivamente.

As semelhanças se tornaram tão evidentes que, na ausência de características para distinção, a melhor forma de diferenciá-los foi associando cada um à uma cor distinta. Vermelho de um lado, azul do outro parece ser a única forma clara de ver alguma diferença entre os dois grupos mais poderosos da política brasileira no melhor estilo Caprichoso e Garantido, talvez para fácil assimilação popular.

Apesar da semelhança e da rejeição, pelo regime constitucional atual um dos candidatos está legalmente eleito para presidir o Brasil, gostem dele ou não. Infelizmente, a polarização por vezes xenófoba, racista e segregacionista fomentada pela mídia a partir do resultado dessa eleição é do interesse apenas de um lado: o perdedor.

Essa espécie de secessão propagandeada pela imprensa poderá prejudicar qualquer apoio popular nas tentativas de mudanças levadas até um governo já contestado e que inicia um novo ciclo sabendo que o país está muito próximo de uma recessão que pode ter como causa uma questionável condução da política econômica e todas as questões adjacentes a ela.

A divisão só irá gerar frutos para a oposição tucana que poderá daqui 4 anos tomar nas urnas um país devastado por um cenário econômico pior do que o atual, consequência de um governo engessado pela falta sustentação, apoio do legislativo e da opinião pública. Uma tarefa que já se desenhava difícil vai se tornando cada vez mais complexa para um cada vez mais isolado governo PTista. 
Deu Dilma, mas quem ganha é o PSDB.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Minha 3a Série



O ano de 1996 foi marcante pra mim. 

No auge dos meus 9 anos a vida era um pouco mais fácil e as preocupações um pouco menores. Se a professora de Ciências tinha fama de rígida, as provas bimestrais da professora de Português e Estudos Sociais não ficavam para trás no pavor que me causavam. Preocupações pequenas pra um homem de 28 anos, mas enormes pra um garoto da 3a série B.

Foi em 1996 que descobri as eleições e a forma com que a política tem consequências na vida das pessoas. As campanhas naquela época eram diferentes, e não menos ruins do ponto de vista de quem precisa decidir quem escolher como representante. Lembro bem de um "showmício" em 1998 com o grupo Soweto e Oscar Schimdt distribuindo bolas de basquete num palanque liderado por nada menos que Paulo Maluf que naquele ano era candidato (vencido) ao governo do estado.

Se Paulo Maluf não foi eleito em 1998, muito disso deveu-se aos fatos que ocorreram em 1996 e aos quatro anos seguintes em que a disputa pela prefeitura de São Paulo confrontou Celso Pitta, do extinto PPB, e Luiza Erundina, na época no PT.


O então candidato Celso Pitta era o preterido do prefeito Paulo Maluf, enquanto Luiza Erundina tentava voltar ao posto perdido nas eleições de 1992.

O projeto mais marcante daquela campanha foi o famigerado Fura-fila. Algo parecido com o monotrilho que (ainda) não temos em funcionamento.

Os jingles de ambos os lados tomaram conta dos corredores da escola e nos recreios daquele ano de 1996. 

Não teria sido tão marcante se não fosse a constatação de que numa classe com cerca de 25 alunos apenas 2 ou 3 "votariam" na candidata Luiza Erundina. Sob a ótica atual, é quase óbvio que numa escola particular de classe média o candidato da situação seria mais bem aceito.

O problema é que Celso Pitta seria eleito e se tornaria um dos políticos com a carreira mais estranha e conturbada que eu conheci. A formação acadêmica cheia de nomes famosos e o padrinho político levaram o economista carioca até o comando do Palácio das Indústrias. Anos mais tarde, porém, o escândalo dos precatórios cassou o mandato de um já politicamente isolado prefeito que só retomaria o cargo através de liminar nos últimos dias do mandato.

Infelizmente, o ano 2000 contrariou previsões futuristas e não me permitiram retornar àquela terceira série B para cobrar meus colegas pelo resultado desastroso do candidato que eles haviam escolhido quatro anos antes.

Em 2014 a sensação é a mesma de 1996, só espero que em 2018 não sinta tanta vontade de viajar no tempo de novo pra cobrar algumas pessoas que insistem em viver naquela 3a série.