domingo, 11 de janeiro de 2015

Titanic e eu



Com pouco mais de 10 anos fui surpreendido com a então superprodução "Titanic" (1997). É bem possível que as não usuais longas três horas da saga de Jack e Rose tivessem passado em vão se meu pai não tivesse aparecido em casa com o cd "Let's Talk About Love" (1998) de Céline Dion e que trazia na décima segunda faixa a temida/adorada/odiada/repetida My Heart Will Go On. Lembro bem que essa foi a primeira música em inglês que eu cantaria sem fazer o embromation.

Numa época em que pesquisa na internet só de domingo a noite pra cobrar 1 pulso, eu seria capaz de listar todas as especificações técnicas (inúteis) do transatlântico que nem Deus afundaria. Nos anos seguintes, lembro que fiz meu pai comprar por algum tempo uma revista semanal chamada "Navios e Veleiros"  (Ed. Planeta) onde pude me aprofundar um pouco mais no assunto e as peculiares terminologias e simbolismos ligados às navegações. Tamanho interesse com um mundo completamente fora da realidade de um garoto que cresceu na cidade durou por uns bons anos e quase culminou num inconsequente alistamento na Marinha. Vai entender...

Pois bem, todo esse interesse peculiar com o universo naval acabou me tornando um pequeno admirador de transatlânticos e navios em geral de tal maneira que este ano resolvi (com meu amor) viver uma experiência parecida com àquela vivida pelos passageiros do Titanic. Felizmente, o final da minha história é bem menos trágico.

Os grandes cruzeiros impressionam qualquer um pelo seus tamanhos e imponência. É humanamente impossível ignorar mais de dez reluzentes andares flutuando no cais de um porto ou atracado em uma baía. São aquelas coisas que nem mesmo o hábito é capaz de fazer serem ignoradas.

Foi com essa admiração que fui recebido pelo colossal transatlântico Costa Favolosa na chegada ao porto de Santos. E não havia como não fazer um paralelo com o gigante que partira de Southampton 102 anos antes e com o qual tive por anos uma relação bem particular.

A estadia no chamado Fairytale Castle começou de maneira bastante confusa tanto por falta de pesquisa da minha parte como por falta de comunicação da cia. marítima e de um camareiro brasileiro (coisa rara a bordo) confuso e esquecido.

A falta de informações nos deixou à deriva nas nossas primeiras horas a bordo do luxuoso navio que realmente faz jus à sua alcunha. Durante nossa perambulação em buscas de informações pelo navio fomos nos acostumando com os salões de jantar que remetem à realeza, a começar pelos seus nomes: Duca D'Orleans e Duca di Borgogna. A decoração chama atenção pela quantidade de luzes que tornam os ambientes cintilantes.

Confesso que tamanha suntuosidade não me afetou positivamente e digo, sem hipocrisia, me incomodou um pouco. Se a tecnologia e a segurança a bordo evoluíram, a estética e comportamento social dos passageiros preferiu ficar no passado. Jantares de gala com antiquados vestidos de gala e ternos em pleno verão no hemisfério sul me parecem exigências fora desse tempo. Minha aversão por trajes de gala em qualquer ocasião talvez explique em partes essa inquietude para eventos assim. Porém, mais do que falta de "requinte" da minha parte, meu objetivo sempre foi de passar uma semana de férias calçando meus confortáveis chinelos e bermudas. E assim foi em pelo menos uma das noites de "gala".

Durante o dia, famílias inteiras, da vovó ao netinho mostravam como deveriam ser as caricatas refeições da realeza nos séculos XV e XVI. Desperdício seria pouco pra descrever o que acontece nos buffets livres do Costa Favolosa. Luís XIV e Maria Antonieta ficariam chocados...

Felizmente, nem tudo é desperdício e ostentação num navio de cruzeiro. As atividades de lazer, esporte e entretenimento a bordo são infinitas e ótimas para quem quer se divertir de maneira, digamos, mais sustentável.

Durante a noite, números de dança, música e lúdicos conseguem entreter de maneira louvável uma platéia plural composta por idosos, adultos e crianças. Durante o dia, uma equipe de animadores e dançarinos coordena uma extensa programação de gincanas e jogos que animam os bares e piscinas a bordo.

Numa das gincanas em que os passageiros  deveriam reconhecer hinos de países ganhei uma pochete, sim uma pochete, lembra do atraso estético que falei antes? E fruto talvez de um acaso digno do roteiro de "Quem quer ser um milionário" (2008) os hinos que acertei foram de Índia e, ironicamente, Canadá, o país natal de Céline Dion. Every night in my dreams...
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