quinta-feira, 30 de abril de 2015

A volta de Momo


Diz-se em algum momento na mitologia grega que o deus Momo, personificação da ironia e do sarcasmo, fora expulso do Olimpo após zombar de Zeus, Atenas e Prometeu e suas respectivas invenções: o touro, a casa e o homem. Reza a lenda que Momo, escolhido para arbitrar a disputa entre os caprichosos deuses teria dito que o touro não deveria ter os olhos embaixo dos chifres para ver quem ataca, a casa deveria ter rodas para ser levada com quem se muda e o homem deveria ter o coração do lado de fora para mostrar sua essência sem escondê-la. 

Momo, porém, voltaria ao Olimpo para aconselhar Zeus na resolução do problema de superpopulação da Terra. E assim seguindo seu nefasto ou irônico conselho, o maior dos deuses fomentou um conflito entre os homens que se tornou conhecido como a Guerra de Tróia.

Todos os dias percebo que os deuses da mitologia Tupiniquim contemporânea ficam, no devaneio das suas disputas, enfurecidos com Momo que é equivocadamente rotulado de branco, preto, vermelho, azul, coxinha, intolerante, machista, homofóbico, comunista, capitalista, etc etc quando na verdade ele é apenas a sarcástica e por vezes ignóbil e ignorável ironia.

A fúria é tamanha que mais dia ou menos dia expulsaremos Momo daqui achando que a disputa estará resolvida, mas e quando ele voltar?

"Momo criticando o trabalho dos deuses" de Maarten van Heemskerck, 1561,
 Gemäldegalerie, Berlin