terça-feira, 14 de junho de 2016

Esqueçam a Alemanha!


Brasil 0 x 1 Peru.

E o Brasil volta pra casa com escalas em Frankfurt, Zurique, Dubai e Hong Kong.

Casa?

Ok. Faz tempo que exportamos futebolistas pro mundo e assim é o futebol globalizado que também é conhecido por não ter mais "bobos" em campo. Será?

Aqui nasceram craques em todas as épocas e, por obra sabe-se-lá do quê - geografia, clima, genética, culinária - arrisco dizer com 5 estrelas no peito que temos, de longe, o melhor futebol do mundo.

"Ahh mas a Alemanha..."

Pegue aleatoriamente 11 alemães e 11 brasileiros. Coloque-os em campo e repita o processo cem vezes mais. Vai sobrar 7 a 1 pro nosso lado.

Mas não é esse o caso.

Escolhemos (supostamente) o mais capaz e preparado para eleger os 11 melhores de nós numa seleção. Fizemos isso tão bem nos últimos anos que o processo ganhou letra maiúscula e virou instituição com fama mundial, a Seleção.

Apesar do sucesso, o posto de técnico da Seleção não é fácil num país de 200 milhões de técnicos como reza o slogan clichê.

A relação controversa com a mal acostumada ( e bem servida) torcida canarinho produziu frases
históricas como o célebre "Vocês vão ter que me engolir" proferido em 1997 pelo Tricampeão mundial Zagallo.

Tivemos que engolir mesmo, Professor Zagallo...

Taí uma honraria de raro valor quando o assunto é Seleção: ganhar o título de Professor...

Por aqui diz-se que todo time campeão tem os carregadores de piano cuja vontade e raça se sobrepõem à técnica e elegância.

Foi com vontade contagiante que Dunga ergueu a taça em 1994 e será eternamente o capitão do Tetra.

Mas o capitão Dunga nunca será o Professor Dunga.

A impossibilidade de atingir um posto reservado a poucos passa por um estilo de jogo apático, galáctico e truculento que, fundamentalmente, se esconde em farpas das raízes do nosso futebol vivo, alegre e leve. O futebol brasileiro.

Com alguma ajuda de Wikipedia e da minha memória de torcedor lá vai:

Em 1994, 11 dos 22 jogavam no Brasil. Campeão mundial após 24 anos de espera. Ufa!

Em 1997, 9 dos 22 jogavam no Brasil. Campeão da Copa das Confederações com direito a 6 a 0 na final contra uma improvável Austrália.

Em 1998, 9 dos 22 jogavam no Brasil. Vice campeão mundial (minha eterna frustração).

Em 2002, 13 dos 23 jogavam no Brasil. Campeão Mundial.

Em 2004, 11 dos 22 jogavam no Brasil. Campeão da Copa América com empate histórico e vitoria nos penalties contra a Argentina. Até hoje assisto aqueles últimos 5 minutos em que o jogo parecia perdido.

Em 2007, 3 dos 23 jogavam no Brasil. Campeão da Copa América com Dunga com um inacreditável 3 a 1 na final contra a Argentina novamente.

Em 2009, 7 dos 23 jogavam no Brasil. Campeão da Copa das Confederações numa virada contra um improvável 0 x 2 aberto pelos EUA. Aquele primeiro tempo eu lembro bem Dunga.

Em 2010, 3 dos 23 jogavam no Brasil. Felipe Melo era Dunga em campo. Deu no que deu.

Em 2013, 11 dos 23 jogavam no Brasil. Brasil campeão da Copa das Confederações com um 3 a 0 sobre a então campeã mundial Espanha.

Em 2014, 4 dos 23 jogavam no Brasil. Bom, já falei sobre isso.

Alguns críticos dos recentes vexames da Seleção evocam como modelo a se seguir o futebol praticado na Europa por Barcelona e Bayer especialmente. Também gostam de exaltar o case de sucesso organizacional germânico esquecendo-se que as desorganizadas escolas sulamericanas detem quase metade dos mundiais já disputados. E se aquela bola do Higuaín entra?

Dunga e parte da crítica não entendem que a história que o primeiro fez parte e a segunda documentou começa aqui na minha rua como em tantas outras, vai pelo campinho de terra batida como tantos outros chegando no Morumbi cercado pelo cheiro de sanduíche de pernil como tantos outros estádios do país, ou seja, tem que ser protagonizada por aqueles que jogam aqui!

Os números me parecem mais convincentes do que qualquer romantismo que eu pareça trasparecer e sendo bastante objetivo: tem Europa demais na nossa Seleção.

Esqueçam a Alemanha, nosso futebol permanece aqui escondido atrás da muralha de espinhos e certezas da indesejada segunda Era Dunga que, espero, termine antes que chegue uma trágica ausência na Copa de 18.