quarta-feira, 20 de setembro de 2017
O perigo vermelho
Em 2013, Brasil e Turquia fervilharam com protestos fortemente marcados pelo cyberativismo e que cresceram subita e inexplicavelmente em reação a uma repressão policial desproporcional. Reação que, de certa maneira, poderia-se considerar habitual pros padrões das autoridades locais.
Afinal, até então quem nunca ouviu ou emitiu o seguinte bordão:
"Protestante vagabundo tem que tomar borrachada mesmo".
(Eu mesmo já fiz isso nesse blog)
Em 2013 algo foi diferente...
Em ambos países, a motivação original dos protestos parecia localizada e pequena pra brutal reação da autoridade policial. Aqui foram os tais 20 centavos, na Turquia os planos de reforma na Praça Taskim.
A passagem de onibus? As árvores de uma praça?
Talvez grandes revoluções comecem motivadas por pequenos acontecimentos, a energia de ativação pra um processo latente.
Mas no nosso caso, e talvez no turco, o desenrolar dos fatos sempre me pareceu inflado e artificial demais para o histórico de negligência popular às grandes e reais demandas latentes.
Brasília e Ancara são bases geopolíticas regionais estratégicas e que, aparentemente, seguiam caminhos diferentes do seu papel histórico secular. Por aqui um governo de esquerda menos conservador se alinhando com outras potências. Por lá, desenrolava-se uma caminhada rumo a uma ocidentalização e uma interessante integração com a Europa.
Me pergunto o que mobilizou tanta gente aqui e lá, mas os desfechos são que me motivam a escrever.
Passadas as marchas de 2013 aqui e lá, o saldo parece ser o seguinte:
A Turquia vive hoje um regime autoritário com caráter conservador. Em 2016, houve uma suposta "tentativa de golpe" que serviu efetivamente apenas pra endurecer o regime do Erdogan e permitir sua perpetuação no poder. Ele lidera o país desde 2003.
Essa semana, o ano letivo turco começou com alterações polêmicas em livros didáticos de um país dito laico. Dentre as mudanças, foi suprimido o conceito biológico da evolução e foram introduzidos conceitos islâmicos de caráter sexista e da jihad.
Se alguém temia que virassemos uma Venezuela, acho que poderá ser pior. Caminhamos desde 2013 como a Turquia. O problema é que só falta um personagem entrar na história e pra desempenhar o único papel que lhe cabe. E não estou falando de Fora Temer.
A sensação é que estamos novamente a um triz do fundo de um poço em que já ficamos atolados mais de 20 anos em nome da família, da moralidade e bem do Brasil.
Görüşürüz!
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