São 2:40 da manhã de mais um dia que entrará para a história do Brasil.
Ao que tudo indica, milhares de pessoas vão às ruas na tarde de hoje pedir, entre outras coisas, o impeachment da presidente reeleita Dilma Roussef.
Os ânimos estão cada vez mais acirrados numa polarização inventada dos discursos contra e em favor da atual liderança do executivo.
Digo inventada pois só é possível definir uma divisão em pólos quando há maneiras objetivas de se dividir as partes envolvidas e esse não parece ser o caso.
Listando as seguintes características:
-Não tolera a opinião contrária.
-Faz vista grossa para alguns personagens políticos atolados em denúncias de corrupção.
-Acha que aqueles que pensam de maneira contrária querem beneficiar um grupo em detrimento do todo.
-Acha que o suposto outro lado odeia rico/pobre.
-Compartilha conteúdo de fontes duvidosas nas redes sociais.
Postas as características acima, de quem falamos?
Pois é, pensou em coxinha/mortadela. Errou. Esse aí é você!
Mas calma que a culpa disso não é sua, nem minha, nem do outro, mas de todos nós.
A polarização inventada e colocada no nosso inconsciente coletivo pelos meios de comunicação formadores de opinião beneficia quem a não ser os próprios meios de comunicação formadores de opinião? E quem perde?
Certamente todos.
Caberia a cada um de nós ter a visão crítica necessária para entender que fatos não são informados de maneira isenta nunca. O professor Leandro Karnal escreveu em um dos seus posts no Facebook sobre o que faz diferença para formar um espírito crítico e nele sugere algumas leituras:
[...]
Exemplo inicial: Bíblia. Livro formador do pensamento ocidental. Sem ela quase nada faz muito sentido, da Capela Sistina ao Caim de Saramago. Não é religioso? Aprenda que o seu gosto é irrelevante na formação do mundo ocidental. Tem ojeriza a textos religiosos? Vc será pó e a Bíblia continuará a ter muita influência no mundo mil anos depois que seu sobrenome tiver virado fumaça nas brumas do tempo. Formação não é preferir coca zero com gelo ou só limão . Formação é processo de diálogo denso e árduo com as bases do mundo.
[...]
Talvez o que eu esteja fazendo vá na direção contrária ao que sugere o professor Karnal uma vez que meu embasamento não é tão sólido e parte de simples observação do mundo ao meu redor. Entretanto penso que vivemos uma crise do espírito crítico/formação por ele definidos uma vez que achamos que só a nossa interpretação dos fatos é relevante.
Blindar-se de qualquer discurso que não seja uníssono com o meu tiraria a solidez que essa posição deve transparecer ao olhar do outro.
É muito provável que durante este dia o universo seja dividido em Quem-foi e Quem-não-foi e que esta classificação torne-se condição inequívoca para que sua opinião seja sumariamente ignorada e/ou ridicularizada pelo dito "outro lado".
Paradoxalmente quanto mais aceitamos a imposição dessa divisão, mais parecidos nos tornamos.
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