domingo, 18 de dezembro de 2011

Olá a todos.

Começo minha participação neste blog um tanto atrasado. Isso porque meu primeiro texto será sobre o ultimo semestre da USP, o qual tem me deixado bastante sem tempo pra escrever e cada dia que você para pra escrever é um dia que você se atrasa sobre os acontecimentos desse momento tão conturbado. Decidi escrever esse texto sexta, dia 16, e ainda bem que não deu certo, porque eu não teria como abordar aqui a expulsão de seis estudantes que ocorreram ontem. Serei o mais objetivo possível, mas já adianto que será difícil. Pensei muito sobre como iniciar o assunto, e decidi por uma questão de extrema importância:

Boa parte de nossa sociedade não sabe o que é a USP, e entre os que sabem, a grande maioria tem uma visão bem ruim sobre ela. Isso não é de agora, não veio da ocupação da reitoria. Faz muito tempo que os estudantes da maior universidade do país são vistos como uma elite privilegiada que se considera melhor que o resto do mundo e quer cada vez mais benefícios, sem se importar com as leis ou com o que acontece fora de seus muros. Vejo uma enorme contradição aí: se é a sociedade que mantem a universidade e a sociedade não gosta da universidade que existe, das duas uma. Que se mude a universidade que existe ou que se acabe com ela!

Imagino que para escolher qual dos caminhos seguir seja necessário responder a uma outra questão fundamental: qual o papel de uma universidade?

Uma universidade deve ser um espaço de construção do conhecimento crítico, a vanguarda da sociedade.

Defender isso, ou dizer que se defende isso, é fácil, difícil é entender como fazer isso em meio a um mundo que acredita que a história acabou, que não é mais necessário lutar, que acha que atingimos o mais elevado desenvolvimento a que a sociedade pode chegar, que somos um exemplo de democracia a ser seguido pelo mundo.
Para estar realmente à frente da sociedade, é preciso que esse espaço seja autônomo, que possa ter as próprias regras e pensar livremente se estamos na direção certa. Essa liberdade, esse avanço todo deve começar pela forma de organização e funcionamento desse espaço. Não é possível que uma instituição que se propõe a ser um guia para o resto da sociedade se organize da mesma forma que essa sociedade, muito menos que se organize de uma forma mais atrasada ainda, como acontece hoje na USP.

Também é necessário que, como universitários, disponhamo-nos a integrar os conhecimentos e visões de diversas áreas, não somos uma escolinha de química, de filosofia, ou de cinema, temos ao nosso alcance o pensamento de vários institutos e escolas, que sem duvida são essenciais para entender que pesquisa atende mais às demandas da sociedade a cada momento. É a partir da discussão que devemos decidir qual é o modelo de urbanização que criaremos, vamos nos basear na melhor circulação de automóveis ou de pessoas? Qual modelo de ciência e tecnologia seguiremos, produtos mais rentáveis para empresas ou mais uteis para o meio ambiente e para as pessoas? Qual modelo de imprensa e arte vamos desenvolver, que permita a livre expressão e divulgação ou que doutrine as massas com a visão dos que a controlam? Qual modelo de segurança usaremos, o que permite índices absurdos de criminalidade ou um alternativo que possa trazer mesmo segurança e ser copiado pela sociedade no futuro? Qual modelo de democracia adotaremos, o que não funciona no país, um mais autoritário ou um que represente todas as categorias que fazem a universidade funcionar? Quem será o representante máximo de nossa universidade? Teremos um representante máximo?

Para responder a essas e outras questões candentes da sociedade e poder por em prática os modelos que criamos é preciso que estejamos em contato com a comunidade ao nosso redor e com toda a sociedade. Esse contato deve acontecer por um dos pilares que sustentam a universidade, a extensão. É através dela que devolveremos à sociedade todo o investimento que ela fez em nós. E com certeza, uma universidade com a verba e a infraestrutura da USP pode fazer muito mais pela sociedade do que tem feito.

É por acreditar que esse papel é muito importante e que o desenvolvimento social está extremamente ligado ao desenvolvimento universitário que eu não acho que a decisão mais acertada é acabar com a universidade pública no país. Mas com certeza todos que tem um profundo ressentimento para com a USP tem motivos para isso, e é por isso que ela deve ser transformada e que cada vez mais os movimentos estudantis e sindicais são ao mesmo tempo mais reprimidos e mais necessários.

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