domingo, 19 de agosto de 2012

Cotas

No início deste mês, o Senado Federal aprovou as novas regras para cotas nas universidades federais. A lei prevê que 50% das vagas seja destinada a estudantes que cursaram 50% do curso em escolas públicas sendo que metade destas vagas serão destinadas à negros, pardos e índios de acordo com as proporções populacionais de cada estado.

Há sete anos atrás com a cabeça de um aluno de classe média recém-formado no ensino médio eu concluiria que isso é uma injustiça que não passa de mais um medida para ganhar votos dos mais pobres. Talvez por trás de toda essa campanha contra o movimento de instituição de cotas estivesse o medo de não ser capaz de retornar a altura todo investimento feito pelos meus pais na minha educação, toda ela em escola particular. Medo de ter que competir em "desvantagem" com outros concorrentes. Eu não enxergava que quem sempre esteve em desvantagem foram eles e que a competição sequer deveria existir.

Felizmente hoje, com mais bagagem cultural e, talvez senso crítico, posso afirmar que a regra é, sem dúvida, justa e está corrigindo anos, senão séculos, de injustiça social no Brasil. Não nascemos hoje e nem nunca nascemos iguais perante ao Estado brasileiro. Posso dizer isso porque aprendi história com bons professores na minha escola particular, o que não é verdade para os beneficiados pelas políticas de cotas adotada pelo governo.

Medidas que busquem igualar e corrigir a curto e médio prazo uma injustiça tão crônica são bem vindas e devem ser instauradas. É necessário porém sempre fazer uma ressalva de que medidas como estas são corretivas e devem ser acompanhadas de medidas de longo prazo como o investimento maciço na educação de base que nunca existiu de maneira universal no Brasil. 

Acredito que estamos alguns anos atrasados quando o assunto é igualdade de oportunidades entre as classes e raças. Porém, histórias como a dos "The Little Rock Nine"  nos lembram de como a intolerância certamente será condenada pelas próximas gerações.



2 comentários:

  1. Compartilho de sua opinião, só não gostei da última fonte que a tempos escreve matérias muito fracas, contendo inclusive erros de português e por vezes mais tendenciosas do que outros veículos que as pessoas gostam de criticar.
    Aí vai minha opinião já enviada via email:

    Totalmente contrário ao senso comum, principalmente da classe média onde fui criado, eu sou sim a favor de cotas.
    E sim, cotas raciais, não simplesmente por razões financeiras, principal argumento de quem é contra, que geralmente acha que devemos ter cotas para os menos favorecidos financeiramente e não por questões raciais.
    Poucos são os médicos, advogados, doutores em economia ou qualquer disciplina mais concorrida, negros. Por este motivo precisamos sim incluí-los de alguma forma na sociedade,
    incluí-los de forma ativa, fazê-los ter seu valor reconhecido, fazer com que sejam vistos da mesma forma que o branco. Porque hoje em dia, pouco importa se é rico ou pobre, não conseguimos julgar a primeira vista pelo bolso do cara e sim pela cor.
    Precisamos de mais médicos, advogados, mestres e doutores negros, para assim ter uma sociedade que não distingue cor de capacidade.
    Isto ainda não temos. As cotas devem ser medidas provisórias, de 5 a 15 anos no máximo. Mais do que isso é exagero e incompetência de nossos governantes. E lembrando que isto tem que vir acompanhado de investimento em ensino fundamental e médio.
    Outro contra-argumento muito usado é o de que esses alunos não conseguiriam acompanhar as aulas. Erro crasso. Já foi provado em mais de um
    estudo que os alunos que entram por cotas tem tido performance melhores que os que entram sem cotas, aqui vai apenas uma amostra: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,desempenho-de-cotistas-fica-acima-da-media,582324,0.htm
    O problema para mim é: 50% é muito, talvez uns de 30% a 35% seria mais sensato, mas é melhor errar para cima do que para baixo. E outra, para onde vão esses 50%? Para os cursos de medicina, odontologia, engenharia, ou para pedagogia, letras e outros cursos onde o ganho e reconhecimento ainda são baixos. Se a cota vai para as vagas em gerais, de nada adianta de 100 alunos negros, 30 irem para pedagogia, 30 para letras, 30 para historia, 5 para algum daqueles cursos novos e pouco reconhecidos ainda da zona leste, 2 para medicina, 2 para economia e 2 para direito.

    Vendo a notícia da exame também sobre o assunto:
    http://exame.abril.com.br/brasil/educacao/noticias/cotas-previsoes-para-as-universidades-brasileiras, lendo o último: acho que os alunos que entram hoje, EM MÉDIA, são piores, mas isso se deve a outros fatores muito além das cotas. Estamos em fase de mudanças. Há muitos questionamentos e mudanças sem fundamentação teórica nas provas. Os professores (das universidades mesmo) tem grande parcela de culpa, porque um aluno pode entrar como fraco e melhorar dentro da instituição, desde que os professores os acolham e não façam o que fazem hoje, que é ignorar a existência deles, entrar na sala, escrever coisas nas lousas e não auxiliar em nada mais.
    Gosto da terceira opinião, mas Harvard e outras universidades top não buscam inclusão, buscam exclusão, o argumento do professor, muito mais estudado que eu, é EXTREMAMENTE equivocado. Harvard não é pública, ela quer os melhores, ela tem que buscar os melhores. Isto seria o papel do Mackenzie, FEI, Puc aqui. USP quer ensino de alto nível sim, mas é pública, precisa disto com inclusão. Ele falou uma grosseria absurda para um intelectual de tal nível.

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  2. Esqueci de acrescentar também que sou a favor das cotas para alunos da rede pública também, talvez uma atitude sensata seria dividir esse 50%, entre 20% para alunos de rede pública e 30% para alunos negros.
    Um bom exemplo da necessidade de ajuda ao negro eu pude ver ontem com mais clareza ainda no júri do mensalão, de todos aqueles juízes presentas, apenas UM era negro. Nossa população carcerária é em sua maioria negra. Por que disso? O negro é pior que o branco? Obviamente não. Simplesmente não tem oportunidade e ainda é visto de forma diferente.
    A partir do momento que o júri formado for semelhante no número de negros e brancos, aí sim podemos dormir com a consciência tranquila. A partir do momento em que ao ir em um hospital observarmos um número praticamente semelhante de médicos negros e brancos, aí podemos ficar tranquilos. Porque não é possível que em um país onde o número de negros e brancos seja tão próximo que a gente tenha muito mais brancos bem sucedidos.

    Além disso, me fizeram alguma perguntas como:
    1)"de que adianta fazer isso se o ensino basico é uma merda"
    R: Como já disse, a medida é provisória. Devemos junto com ela melhorar o ensino público. De nada adianta também a gente começar a investir no ensino público hoje, pois o resultado só viria daqui uns 5, 10 anos, e o que acontece com os alunos que já estão inseridos no ensino que atualmente é uma porcaria? Deixamos eles lá sem oportunidade?

    2) "fazer isso pode fazer decair o nível", "muito alunos passaram na minha frente e nem na lista de espera eles estavam, será que eles estavam preparados? será que irão desistir?"
    R: Os números mostram que não. Os alunos que entraram pelas cotas estão conseguindo acompanhar as aulas e ainda ter média maior que os outros. É questão de pesquisar e ver os números.

    3)"e se o negro, ou indio vier de uma família que de boas condiçoes?"
    R: Se a pessoa tem condições e se aproveita, é um risco que corremos. No mundo inteiro pessoas se aproveitam de incentivos do governo. O importante é aproveitar os bons, saber que tem mais gente boa sendo beneficiada do que gente ruim se aproveitando.

    4) "A universidade publica já é administrada com pouca verba, os professores ganham menos que os de faculdades particulares, será que essa é a melhor medida?"
    R: Isso não tem a ver com as cotas. E eu não sei até onde a verba é pequena, isso a gente diz vendo noticiário de greves. Mas eu dúvido que um professor de universidade pública ganhe pouco a ponto de ir ao trabalho insatisfeito com a vida que leva.

    5) "Mas, será que ceder vagas para negros, índios, etc, não é discriminação? ou dizer que eles são inferiores?"
    R: Obviamente não. Seria a mesma coisa que retirar os assentos para deficientes e idosos que existem nos ônibus. Estamos os discriminando? Obviamente não, são pessoas que estão em situação mais difícil que a gente, e estamos tentando os colocar em pé de igualdade cedendo alguns benefícios.
    Esta atitude de cotas é para poder fazer com que pessoas que não tiveram condições entrem de igual para igual. É muito fácil estudar em colégio particular, passar anos no cursinho e dizer "se eu posso, ele também pode", sem saber o quão precário foi o ensino do outro e as condições de estudo.

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