quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Brasil, um país rico e violento.

Como tudo começou....

Recebi um email com a seguinte mensagem levantando uma discussão:

Hoje saiu a noticia: Ipea divulga "Desigualdade nunca foi tao baixa no Brasil". Eu tinha um post "Pobreza diminui e Violencia aumenta". Que eu me perguntava como pode a pobreza diminuir, classe media expandir e ao mesmo tempo a violencia aumentar? Eu ja acharia errado se ela se mantivesse nos mesmos niveis, mas aumentar só mostra uma incoerencia unica e que a impunidade tem sido o grande problema. Passamos da fase de problemas sociais como fome, desemprego e outros fatores. Entramos na impunidade. Como sempre, esquerdistas, pseudo-esquerdistas e pessoas que não gostam de se rotular assim mas sempre possuem a opiniao da esquerda, justificaram os numeros que eu apresentei como consequencia da "desigualdade no Brasil".Eu me pergunto agora, aonde está esta desigualdade?Acrescento ainda, que a maior tolice é pensar na desigualdade hoje em dia. Nunca tivemos tantas pessoas NO MUNDO passando por mudanças positivas como acesso a saneamento basico e um numero historico vivendo acima da linha de extrema pobreza. Basta pesquisar os numeros. Estão em todos os sites possiveis, desde as bases de dados da ONU, IBGE até veiculos como a Exame.Pela segunda vez deixei o debate aberto para outras pessoas. Normalmente temos esses "convidados".Abraços

A impunidade é um grande problema do Brasil, mas ainda assim precisaria entender melhor o que o autor do artigo define como violência. Digamos que a violência está distribuída em vertentes diversas que precisamos entender para chegar em alguma conclusão. Recomendo o site www.mapa

Por que digo isso? Quando lemos que a pobreza diminui e a violência aumenta parece que temos um incoerência, que pode ou não se justificar através do cenário de impunidade. Entretanto, temos a tendência de, imediatamente, relacionar violência à alguns tipos de agressão. Em outras palavras só associamos violência a matar, roubar ou agredir outra pessoa. 

A violência, contudo, vai além e eu gostaria de destacar a violência no trânsito. Sim!! mortes no trânsito são consideradas nas estatísticas de violência. E aí o contra senso da manchete do artigo fica mais coerente. O expressivo aumento do número de motociclistas que são produto dos avanços econômicos são o exemplo do "Pobreza diminui". Naturalmente, as mortes por acidentes na categoria acompanharam (e superaram) o crescimento da frota já que além de motos, aumentaram também o número de carros e caminhões nas ruas e estradas do Brasil. E aí o resultado natural é: "Violência aumenta". 


Outra consequência do crescimento econômico brasileiro diz respeito à maneira como nosso PIB é transportado pelo território. Na sua maioria, os produtos brasileiros são escoados via rodoviária, o que naturalmente aumentou o fluxo de cargas nas estradas que na maioria dos casos manteve-se nas condições pré "milagre brasileiro". O resultado disso foi um aumento nos acidentes em todo território nacional com destaque para os estados do Norte Nordeste, grandes beneficiados pelos avanços econômicos dos últimos anos.

Não podemos ignorar também o fato de que parte da violência no trânsito também é causada pela falta de fiscalização e impunidade. Porém a questão não é tão simples e não podemos apontar uma causa única, mas sim um cenário onde um dos fatores é a impunidade e ,na minha opinião, não acredito que ela seja a maior dessas causas.

Mas e a violência como vista "tradicionalmente"? Bom, dados do estado de São Paulo apontam uma diminuição drástica nos números de homícidios. É verdade que estamos num período de estagnação e até retomada no aumento das taxas de homicídios. Entretanto os avanços da última década são numericamente incontestáveis. Porém, não foi assim em outras unidades da federação.

Novamente, Norte e Nordeste apontam dados alarmantes em que a impunidade tem papel de protagonista entre as causas dos números observados. Porém, mais uma vez faço uma ressalva. Assim como as estradas não conseguiram adequar sua estrutura à demanda, os rincões brasileiros não conseguiram fortalecer (ou até mesmo instituir) suas instituições básicas e sua infraestrutura. Num Brasil cada vez mais urbano, as periferias em que a presença do Estado é frágil se proliferaram e a lei da bala prevalece como sempre prevaleceu só que em escala maior. 

Pra finalizar, o crescimento econômico seguido de aumento da violência no caso brasileiro é algo que em princípio causa estranheza, mas os dados são muito claros para o entendimento da atual situação. Falta de investimento governamental é uma das maiores causas dessa "incoerência". E neste caso, a direita liberal naufraga nos próprios louros do crescimento econômico, uma vez que o subproduto do avanço do PIB foi uma intensificação de problemas crônicos de infraestrutura e falta políticas sociais por parte do poder público.


Fontes:


3 comentários:

  1. Primeiro argumento errado utilizado: Violência no trânsito conta como violência. Sim até conta, mas você agiu como todos os brasileiros e provou ter memória curta. Em meu antigo artigo eu demonstrava aumento da violência dos mais diversos tipos, como aumento de latrocínios, assaltos a bancos, assaltos em aeroportos e homicídios em geral também.
    Então sim, a violência realmente aumentou, não só o número de atropelamentos e tudo mais.
    Aponto um contraste ao seu artigo falando da queda da violência em São Paulo:

    http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6179905-EI5030,00-Cidade+de+SP+registra+aumento+nos+homicidios+e+latrocinios.html
    http://br.noticias.yahoo.com/homic%C3%ADdios-voltam-crescer-s%C3%A3o-paulo-agosto-121600280.html

    E todos que frequentam o blog chegaram a ver muitos mais índices que eu havia postado, mas não faço questão nenhuma de procurá-los novamente se as pessoas vão simplesmente fechar os olhos para eles, como aconteceu agora. De que adianta eu demonstrar que a violência como um todo aumentou através de números e dados, se no final da história as pessoas vão buscando outras coisas para se apegar e dizer que a impunidade não é problema?
    Inicialmente o problema era a desigualdade social, pois bem, ela está descartada. E já estava descartada a tempos, eu apenas demorei para colocar o argumento em questão. Vivemos em um país desigual, mas que está combatendo a desigualdade. Logo, não faz sentido a violência aumentar. Você mencionou algumas periferias mais abandonadas, pois bem, elas tinham violência antes e tem agora porque nada foi feito para mudar o retrato por lá. No entanto, outras tiveram mudanças, se não tivessem, não teríamos esse aumento de empregos, aumento de cotas, aumento de crianças nas escolas (muito embora estas tenham suas falhas).
    Volto a afirmar que tudo converge para a impunidade. Vivemos em um país onde a classe C se expandiu como nunca, onde mais pessoas estão tendo acesso a saneamento básico, temos menor exclusão, estamos praticamente vivendo a era do emprego pleno, temos as cotas já faz algum tempo para ajudar na inclusão.
    Então sim, mudamos, somos outro país, outra cara, e a violência é a mesma.
    Além disso, se no Norte e Nordeste, o número de homicídios aumenta, é onde temos grande expansão das diversas bolsas de auxílio, o que também provoca uma incoerência.
    Então estamos sim vivendo em um país sem nexo, e uma falta de nexo aceita por muitos que tendem a resistir a criação de um sistema que puna mais e que seja mais rígido.
    Passaremos mais alguns anos vivendo com medo de assaltos, roubos e assassinatos, mesmo com o crescimento que temos. Simplesmente por essa relutância em aceitar os fatos e os números que estão bem em frente a nossa cara.

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  2. "Inicialmente o problema era a desigualdade social, pois bem, ela está descartada" (????????)

    Parafraseando o Chalita no último debate: Queria morar no país igualitário que você defende. Recomendo a página B7 do caderno de Economia do Estadão de hoje (26/09/12) que álias cita a tal pesquisa do IPEA.

    Outra coisa, não disse que a impunidade não é um problema, mas sim que não é a única causadora da atual situação em que o crescimento econômico pode sim ser considerado um dos causadores dos índices de violência atuais. Repetindo. É UM dos, não o único e de longe não é o principal.

    A ânsia por punição é um reflexo da estratégia brasileira de só querer corrigir e nunca remediar. Punir é necessário, mas prevenir é vital para um país com as pretensões do Brasil.

    Paro a discussão da minha parte por aqui alertando que dados podem ser interpretados ou lidos de maneira superficial. O que eu tenho buscado fazer é interpretar, ir além dos números apenas.

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  3. O país não é igualitário, não me recordo nem lembro de ter lido isto. Mas a desigualdade social vem diminuindo, simples assim, por este motivo ela pode ser descartada como motivo para o aumento da criminalidade. Recomendo os vídeos da primeira semana do curso de sustentabilidade fornecido pela universidade de Illinois no coursera.org, a Exame com a Dilma na capa ("O braço forte da economia") e artigos do psicólogo inglês Anthony Daniels, pois sim, eu também vou além de números e dados crus para fazer minhas análises.

    Paro aqui também minha parte.

    Abraços e valeu pela iniciativa de responder e opinar!

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