terça-feira, 11 de junho de 2013

20 Centavos que valem a pena


Desde a semana passada, as noites paulistanas têm sido marcadas por protestos contra o aumento da passagem de ônibus de R$3,00 para R$3,20. A Polícia Militar com a gentileza e preparo que lhe são característicos tem feito seu trabalho com louvor: bombas de gás, tiros de borracha na altura da nuca e prisões marcaram todas as manifestações.

A imprensa brasileira em geral gosta mais de dar destaque às pichações e depredações causadas pelos manifestantes, afinal é muito mais conveniente($) fazer VT e tirar foto do que ficou do que levar bala no meio da multidão. O governador Alckmin e o prefeito Haddad esquecem divergências políticas e entoam juntos o discurso de que a ordem deve ser mantida. O azul do PSDB e o vermelho do PT artisticamente colorem de roxo a pele de quem ousa atrapalhar o trânsito da grande metrópole. 

No palco dessa epopeia paulistana, nossa(sic) polícia, nossa(sic) imprensa e nosso(sic) governo estão fazendo seus papeis com a maestria de sempre. E a opinião pública analfabeta funcional e escrava dessa diabólica trindade é posicionada contra esse bando de baderneiros que lutam "só por 0,20 centavos". E num passe de mágica e de demonstração de unidade a Polícia que não protege e amedronta vira a restauradora da ordem, a imprensa vendida e sensacionalista vira a fonte de fatos inegáveis e o governo, bom o governo....quem é mesmo o prefeito...? governador....?

Eu particularmente destaco o argumento contrário que diz: "Esses caras estão lutando por 20 centavos! E a educaçãocorrupção, superfaturamento, e tantas outras mazelas que marcam a administração pública no Brasil? Ninguém vai pra rua por causa disso..".

Não se pode levantar a bandeira de uma luta em detrimento da luta de outros. É leviano fazer tal juízo de valor.

Se você é defensor dessa tese, saiba que certamente alguém foi pra rua e protestou em favor de demandas que você julga mais relevantes para o país. Infelizmente, também é certo que tais protestos não foram devidamente veiculados nos canais daquela imprensa bem intencionada supracitada e mais certo ainda é que você não aderiu às tais nobres causas já que está pedindo pra alguém fazê-lo quando de fato alguém já o fez. Resumindo, você pegou o ônibus andando porque ele não para quando está cheio, pagou absurdos R$3,20, e quis se apoiar na barra de ferro, afinal sabemos que janelinha em ônibus paulistano é promessa quase que celestial. Será que deu pra entender?

É preciso pensar um pouco mais além para enxergar que os protestos lutando por um aumento que por si só já é abusivo, mas sim por uma mudança em um modelo de transporte público que privilegia o transporte individual ao coletivo. Não é uma exclusividade brasileira essa servidão a indústria automobilística, mas a prostração diante de tais absurdos é tipica dessa terra. 

A má qualidade e baixa abrangência do nosso transporte público coletivo são produtos de decisões tomadas por lideranças corruptas (eleitas por um povo sem educação) que transferem dinheiro público para as empresas de ônibus e empreiteiras que oferecem em troca um serviço superfaturado e ruim penalizando a todos. Nenhum dos manifestantes está lutando por 20 centavos, mas sim por anos a frente diferente dos 500 anteriores. 

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